Livro de poemas Nossa Barca é uma lírica conversa íntima da poeta com seu ouvinte-leitor

 

 

Fernando Andrade

Jornalista e crítico de literatura

 

A voz teatral emposta uma potência para o espaço até aonde houver espectador. Ela é ao mesmo tempo discurso e comprimento de onda, está interessada no alcance. É um voz de certa forma pública, pois traz textos de grandes autores da dramaturgia.

Lendo o livro da poeta Marina Ruivo, Nossa barca, editora Patuá, ouço uma voz que não é interna, pois não esta do lado de dentro do peito. Embora faça eco ao coração. Uma voz entre o púlpito e a fala melodiosa de uma conversa tete a tete. Nunca vi-li esta dualidade tão bem posta de poetizar entre o outro e uma língua de pássaros, cantante, mas que anasala doce empatia.

Entre o pessoal e particular e o entorno podemos fazer tanto um sarau quanto uma canção entre o e sua escuta prazerosa. O prazer de escutar vem da poeta Marina que fala aos outros como se estivesse com seus familiares numa reunião íntima.

Ah! o doce coloquialismo da frase certa no lugar certo, fatiando no mesmo espaço público toda a devassidão do mar que entra nos poemas da poeta como fio de tessitura de certos tapetes que parecem voadores; voam pela imaginação do leitor. Há, sim, certa verossimilhança entre o tom de um bate-papo de um motorista subindo a serra, qualquer uma, e a decisão de sonhar com ermo de uma montanha tão ensimesmada.

Quem lê a poeta parece que já a conhece por confundir o livro que lê com sua pessoa que transporta toda sua bagagem, de vida, profissional. Admiro em ver a poeta professorando numa sala de aula e apenas sublimando sobre o que a poeta já sedimentou na leitura.  A intimidade de sua prosa é como um bom violão, dobra linguagem com melodia, junta jazz com samba no mesmo fraseado. 

 

 

Marina Ruivo é autora de Nossa barca (poesia, Patuá, 2019) e de Geração armada: literatura e resistência em Angola e no Brasil (Alameda/Fapesp, 2015), livro que se originou de sua dissertação de mestrado. É doutora em Letras pela Universidade de São Paulo, professora da Universidade Federal de Rondônia e pós-doutoranda na Universidade Federal do Rio de Janeiro.