As palavras dedilhadas assim como notas musicais na obra ‘O Sul de Lugar Nenhum’ de Marcelo Frota

 

 

Francieli Oliveira
Professora, escritora e crítica literária.

Durante a história da música, tivemos vários pianistas famosos que dedilhavam e criavam músicas com uma técnica refinada, suas elaborações harmônicas nos são apresentadas, a ponto de criar obras que são lembradas até hoje. Pianistas como Chopin, Mozart e Beethoven, são até hoje reconhecidos e aclamados por suas criações.
Suas duradouras influências na música são veneradas e estudadas até os dias de hoje.

O crítico alemão Paul Bekker (1882-1937) observa que para ele, as notas de Beethoven, por exemplo, são “O resumo de sua obra é a liberdade”, ainda segundo as palavras do crítico, Beethoven se utiliza “a liberdade política, a liberdade artística do indivíduo, sua liberdade de escolha, de credo e a liberdade individual em todos os aspectos da vida” na composição de suas obras.

Assim como a música desses compositores, que criaram belas obras, as quais são reconhecidas até hoje, ao ler ‘O sul de lugar nenhum’ – pela Editora Penalux- é possível perceber a maestria com que Marcelo Frota cria sua linguagem poética lírica. Cada leitura de seus poemas é como se nos projetasse nas ruas noturnas da cidade, nos apresentando a vida nua e crua que nem sempre vemos. É como se estivéssemos em um bar, bebendo uma cerveja barata e vendo a paisagem, ou como se estivéssemos a janela da sala com um copo de vinho na mão deslumbrando a cidade.

A poesia de Marcelo Frota nos é apresentada com sua composição densa que nos penetra a alma e deixa as impressões de uma realidade marcada pela crueza, as quais, por vezes, não percebemos ou não queremos perceber. Pela leitura de sua obra, percebem-se as emoções singulares que se fazem presentes em cada verso, percebendo assim, que em sua escrita, o poeta nos apresenta o Homem sob um prisma musical, alcoólico e melancólico.

Nas palavras, sabiamente usadas por Marcelo Frota ao dedilhar sua obra, vemos que os versos usados pelo poeta são para a compreensão da vida, sejam essas, feitas na transgressão de valores e conceitos, que para o leitor, pode ser visto como um profano sagrado, colocando o Homem como um ser grotesco, real e sonhador. As estrofes de seus versos parecem cantar à medida que cada leitura é feita. Essas estrofes, fazendo com que no ato da leitura de cada poema, vislumbrássemos um ambiente urbano diferente.

Ao ler e reler ‘O sul de lugar nenhum’, nos projetamos a uma cena de filme, sendo que estas cenas são escritas e de certa forma dirigidas por Marcelo Frota, a cada poema lido. Por ser um amante do cinema, vemos que Frota projeta imagens cinematográficas na escrita de sua obra, assim como o fizeram Tarantino, Woody Allen e François Truffaut, sem deixar de nos lembrarmos de Charlie Chaplin, grandes cineastas com produções riquíssimas.

Vemos nos poemas de Marcelo Frota uma escrita linear que nos é apresentada como se fosse um curta metragem poético, ao contrário dos longa metragens desses grandes cineastas. Podemos ver as imagens saltarem das páginas e nos apresentarem um cenário com cidades, bares, mulheres e muito bebida alcoólica, assim como Tarantino nos apresenta suas produções muitas vezes focadas no lado marginal da vida. Além disso, podemos notar uma constante paisagem urbana, na qual as pessoas são projetadas nas calçadas, dentro de suas casas, em bares, mostrando uma paisagem nítida, com vitrines e ruas, como assim as são, tudo sendo projetado em um mundo preto no branco como Chaplin costumava fazer.

As paisagens vistas por Marcelo Frota são expressas por meio de palavras. O poeta faz um filme na imaginação de quem lê, assim como Woody Allen nos faz com suas obras, pois sim, o cineasta faz com que nos projetemos para dentro da tela ao mesmo tempo em que o poeta, consegue fazer essas projeções mentais nos leitores partindo de cada poema, sendo que cada poema pode ser visto/lido como um curta diferente do outro e que mesmo assim, unem-se como um grande filme por um complementa o outro.

Pode ser audácia minha fazer tais ligações e contra pontos entre todos esses artistas. Mas dada a leitura de ‘O sul de lugar nenhum’, é impossível não fazer uma relação, uma ligação de todos esses artistas com a obra de Marcelo Frota. É visto que o poeta veio trazendo sua natureza com uma pitada de refinados recursos, que fazem o estilo do próprio poeta. Ao ler ‘O sul de lugar nenhum’ o leitor vai se sentir em estado de ebulição com cada cenário. E fica melhor ainda o ler ao som de The Beatles, Elvis, David Bowie ou até mesmo Sinatra. O que não pode faltar nessa leitura é um bom vinho, tento como vitrine, as luzes da cidade, assim como fiz.

23/08/2019.

 

 

 

Francieli Oliveira foto 300x280 - As palavras dedilhadas assim como notas musicais na obra ‘O Sul de Lugar Nenhum’ de Marcelo Frota

Francieli Oliveira é professora e digitadora. Nascida na cidade de Ijuí, no Rio Grande do Sul, tem por paixão os livros, os quais adora colecionar. Ama a literatura, e pelo amor que tem pelos livros e suas histórias, se tornou escritora. Amante do cinema e da boa música vai dos clássicos aos modernos. Em suas constantes leituras, não pode faltar livros de terror, suspense e uma pitada de sobrenatural.
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