Três poemas do livro “Canções de Aretaeus”, de Agmar Raimundo

 

 

 

Poemas  do livro “Canções de Aretaeus”, 2018.
                                         

 

Canção da sorte

Eu quero braços que me confortem com segurança,
na dor,
no amor
ou na morte.
Que ouça comigo um Punk/Rock do Ramones;
um blues de Janis Joplin,
ou o visceral Iggy Pop…
Que tolere de tudo:
“De Verdi à Radiohead!
Quero braços que possam juntos,
mandar muitos à merda com a “banana” de Warhol.
Que romantize meu underground,
sem o marketing das páscoas ou natais!
Eu quero um amor que use batom preto,
em protesto violento contra o vermelho,
para que eu não precise sempre imaginar estar comendo uma mesma fruta todos os dias.
Não sou muito da sorte, nem do azar,
sou apenas decadente e doente.
Eu não quero alguém que viva me desejando “boa sorte” somente,
mas alguém que me dê os toques para quando estiver vacilando
pegar na minha orelha e sussurrar:
– “Não se esqueça!”
“O diabo é pai do Rock, Raul!”
“E se Rimbaud fosse vivo, seria uma estrela atoa;
como Paulo Leminski, numa boa!”

 

 

***

Canção do vampirismo

Meus sisos são concisos,
assim o meu vampirismo
não deseja mais que o
sangue dos seus lábios
ambos os lábios – os de
cima e os de baixo, de
cabeça pra baixo ou de
pôr do sol no mar doce.
Meu sangue escorre pelo
canto da boca e você diz:
“É como o gosto do absinto!”

 

 

Canção da fotografia

Havia um tempo em que somente as memórias
guardavam as lembranças.
Muitas histórias detalhistas, às vezes se perdiam
em tantas nervuras de ligamentos prolixos
que ao homem foi ficando difícil suportar tantos desafios…

Grandes rochedos, paredões, mármores, granitos
se descobriram como a solução de intermináveis
inquietações para um mundo que ainda usava fraldas.
Apareciam ali, telas infinitas para os seus pensamentos
viris e confusos, que não desapareceram com a moção do tempo.

Assim começaram os primeiros flashes fotográficos no mundo.
A ânsia da Humanidade em ser superstar,
não começa e nem termina em um Big Brother,
os neandertais, os sapiens e até os macacos,
nunca esconderam suas vaidades diante da História.

Entendo o ato de se registrar num tempo transcorrido,
digo, a captura manual por dispositivos inanimados,
como uma forma ridícula de se preservar o passado…
É ver-se o que é no instante, e no esquecimento
da vida que se segue, voltar um dia ao pretérito do vexame imutável.

Para outros, é um momento Divino! Fiat Lux!
Pose. Um pouco para trás. Mais um pouquinho, mais… Aí.
Sensacional! A fotografia é o resultado fantástico do
talento de um artista ao momento da captação de sua lente,
ou a tragédia forçosa da beleza que se imagina caber em tudo.

Sou mais as pinturas!

Elas me fazem feliz: suas cores, matizes,
sombras, borrados, carvão, óleo,
“Acrylic on canvas”…
Gostaria de ser imortalizado numa tela, um dia.

Das pinturas aos Daguerreótipos,
as pessoas foram cada vez mais se esvaindo de suas memórias
e deixando suas lembranças encaixotadas
e presas nas fotografias Daguerre.
Dali, foram milênios em segundos que se contaram até então.

Eu digo: Ó Morte! Ó Morte!
Não me deixe desvalido da lobotomia
de uma lente Carl Zeiss!
Tampouco me abandone à sorte
de uma torrencial chuva de raios de selfies neuróticas.

Quem for meu amigo,
não me procure para aquela foto repentina,
de tantas horas da matina,
bêbados, encharcados de nicotina,
pois de mim só ouvirão: “— Nada de foto minha!”

No desespero de todos os quartos solitários
eu escuto todos os relicários,
aquelas imagens presas nas fotografias querendo sair,
é como se fosse EU ali:
“O corvo de Poe; O morcego de Augusto e O barco bêbado de Rimbaud.”

 

 

AGMAR RAIMUNDO – Autor do livro, “Canções de Aretaeus” de 2018, nasceu em 1978. Reside na cidade de Monte Santo/BA, onde é professor de Língua Portuguesa da Rede Estadual do Ensino Médio há mais de 10 (dez) anos e 05 (cinco) anos na Rede Municipal. Atuou na área de tutoria em Letras na FTC (Faculdade de Tecnologia e Ciências) – Polo Monte Santo.
Formou-se em Letras (com ênfase em Língua Portuguesa e Língua Inglesa) no CESVASF – Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco – PE. É especializado em Línguas e Filosofia. Possui trabalhos publicados em muitas Antologias, já recebeu prêmios por alguns de seus textos. Suas maiores paixões são: A Filosofia de Nietzsche; A Literatura; O Cinema e a Música.

Site: www.agmarraimundo.com.br
Contato: agmarraimundo@hotmail.com

 

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This Article Has 3 Comments
  1. Agmar Raimundo Reply

    Fiquei muito feliz por ter recebido o Convite para participar do excelente Projeto “Literatura&Fechadura” ao qual já venho acompanhando há um tempo.
    Percebo que os autores publicados apresentam trabalhos de um labor notável.
    Enfim, sinto-me honrado em ter entrado para o rol dos colaboradores e sempre que me for solicitado outros trabalhos estarei à disposição para contribuir.
    Atenciosamente,
    Agmar Raimundo.
    “Se a vida é uma droga, vamos consumi-la.”

  2. Paulo Florindo Reply

    Esse bom poema da foto lembrou-me de um que escrevi a um tempo atrás:

    Junta todos!
    gritou a irmã

    mais perto
    se não escapa

    lembrei dos índios:
    tinham medo de foto

    a alma ficaria grudada
    no papel do retrato

    Hoje em dia
    Almas viram códigos binários

    ao serem capturadas
    pelos bits e bytes da vida.

  3. Agmar Raimundo Reply

    Boa noite, Paulo.
    Esse poema é muito interessante, flagrante, denunciados e atemporal.
    Parabéns!
    Tenho um outro que escrevi há algum tempo que também reporta a isso que você crítica em seu texto. Chama-se “Limbos virtuais”.
    Abraços.

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