Fernando Andrade
Jornalista e crítico literário
Um discurso deve ter algum tipo de itinerário, um tipo de jornada do herói que ao ler suas partes internas, reconhecemos um traçado não necessariamente com inicio meio e fim. Um desenho completo que talvez até pareça como a figuração de um quadro. A pintura expõe o quadro na dinâmica do envolver o que se conta no quadro. O discurso portanto numa época de luta, entraves, forças que oprimem o humano na sua carne bruta, precisam não dar forma da matiz ideológica, e sim, estar fechado em um desenho que permita ao leitor a visualização do caminho, da força de ideias que se interliga em urdiduras.
A poeta Maya Falks, no seu livro Poemas para ler no front, tem uma tessitura eruptiva ao dialogar relações nem sempre calmas entre mundos de pendores de opressão sobre o humano. Seus poemas são fortes e imagéticos, mas lidos continuamente em série como num livro, perdem-se num fio da meada. Há talvez a ausência de um olhar paciente para colocá-los numa certa ordem de temas ou estilos, ritmos.
Os poemas habitam a intriga do ser em conflito, a relação entre o eu e o meio social, a poeta domina as teias de imagens, pelas quais, as relações entre externo e interno se dialetizam por alteridade. Há um canto de chamar os soldados ao front, de perfilá-los na luta da liberdade contra a barbárie. Mas não consigo fazer ( ler) deste canto, um cântico, uma elegia que seja do tamanho de uma nau, de uma barca que navega e transborde o espaço de uma moldura, de uma conjuntura estética.
Vou ler este livro, mas não sei se conseguirei ser sutil para dizer que não gostei (se eu não gostar).