Novela A promessa discute autoria e como é esta questão do cerne da lateralidade da criação : investigação do outro quanto reflexo condicionado de uma certa sociedade espetacular

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por Fernando Andrade

Jornalista e crítico literário

 

 

Nesta grande indústria cultural onde o eixo nunca se sabe de onde parte. A dúvida se o autor virou um negociador do seu processo de autoria, como criador ele fala sem modéstia do que produziu, escolhe amigos para passar o tal livro, tem medo de fazer circular o livro além da fronteira do seu círculo de afeto. Para isso deveríamos nos ater às fórmulas que nos dão um certo prazo de continuidade – seguir pistas que nos preserve dos erros e fracassos?

É certo que um autor por mais que não queira dizer, ele também quando escreve, segue um fluxo de mecanismos internos onde se deve ou não se sentir mais seguro, aí já é outra hora.

Numa sociedade de espetáculo o crime ainda segue um instinto de mordacidade do escrutínio do outro através de sua desfaçatez memória. O assassino não preserva ninguém pois não lida bem com a continuidade da memória-lembrança. Como elucidar um crime numa sociedade de espetáculo, onde o palco e o camarim parecem não se discernir tão prontamente? Desde persona do Bergman não temos mais este processo de referencialização de uma máscara sobre a outra. Perguntamos quem foi? Mas não sabemos chegar as respostas pelas perguntas arguidas. Neste processo entrópico se dá o enredo da novela A promessa do escritor suíço
Friedrich Durrenmatt, uma edição da Estação Liberdade.

Nada mais curioso de que um policial investigar os processos internos de um escritor e ainda por cima questioná-los! Vocês não acertam suas regras gramaticais de dramaturgia! Querem sempre reger os acontecimentos da teia ficcional através de fórmulas matemáticas, onde acaso, imprevisibilidade, estão fora de suas planilhas. Mal sabe ele, que o policial que ouve logo lhe contará um caso investigado por um colega que quase o levou às raias da loucura. A narração começa ao leitor sob todos  estes pontos de vista, onde as leis de probabilidade, de suscetibilidades sempre parecem deslocadas de seu cerne.

O autor suíço criará um novelo filosófico sobre autoria e motivações. A fórmula pronta da receita do bolo nunca é como se espera nem do personagem que investiga o assassinato de crianças num vilarejo dentro da Suíça procurando respostas motivacionais para o crime em série do assassino.

Ele parte de um pressuposto que o autor do crimes tem um certo exercício de método que seria dar pedaços de trufas às crianças. Só que dentro desta repetição-ato do outro, estão outros instintos respostas que este investigador não chega. A regra entre um estímulo dado em sequência e o seu processo de captura pode muito bem durar anos ou nunca ser revelado por ele, e só ser descoberto casualmente depois num relato dentro de um hospital. Como produzir pistas numa sociedade que requer certo fascínio pelo autor falando de si (primeira pessoa), sem a proteção da lateralidade? Esta uma das questões do livro que respostas sempre fogem das margens das perguntas.

 

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