Livro de poemas “Fundamentos de ventilação” e apneia tergi-versa uma relação de deslocamento do sentido dentro de um esco(r)po que diríamos vida, mas sem sua frouxa ilusão de enraizamento

Fernando Andrade

Jornalista e crítico literário

 

Deslocar não uma ação, mas sim uma ideia-conceito. Não apenas trocá-la de lugar espaço, até tempo. Mas sim tergiversar seu eixo. Digo aqui entre um lero ou outro estou conversando com alguém. Trocando informações, confidências, segredos, revelo ou oculto tanto o sujeito quanto o predicado. Verso com o que denota adição. Agora no papo da tergiversação, é no assunto reto: cotidiano fugir do assunto. Sair pelas beiradas, tangenciar as quebradas. Dar filosofia ao eterno retorno, versar tangenciando, sem chegar ao ponto final.

O poema quando belo, é eliptíco, tem um dom oracular-lacunar,  visível entre o dentro do espelho e sua imagem fora. Seria então o poema ciência?  Aquele que habita a hipótese mesmo antes de ser comprovada, de ser uma tese arbitrada por senos ou cossenos juízes. Mas se digo que a vida é prática de relações que se comportam,  presas a hábitos, moldes, até religiões. Como despedaçá-la  em poesia? Como deixar a unidade básica da vida em sopro empuxo e pulmão,  para a desbaratinação do caos, da despotência do erro. Não só em livros, me livro da coerção do rigor mortis  do controle absoluto.

Detidamente  lendo devocionalmente um livro em específico, conduzo-me para o veículo;  aquele que opera deslocamentos fracionais de acerto ou erro cinético. No livro de poemas Fundamentos da ventilação e apneia do poeta Albero Bresciani pela editora Patuá, vemos certas guias ou rupturas de sentido como se fosse uma caixa ou duto onde passam correntes  não de ar embora o livro possa ser considerado um intenso pulmão entre inspirar (   )   e respirar trocas,  entre vazios e sentidos.

 O poeta retira o cerne maquinal das coisas; dos bichos, retira portanto sua função operante. Algo como destituir objetos e seus objetivos. Numa troca ou tergiversação constante de sentidos deslocantes, o poema de Alberto  tem um eixo, mas sua rota ou seu moto-continuum  é sempre delirante no sentido de amplificar relações dialógicas internas do poema, não definindo o próprio poema como uma ação transcursiva ou retilínia. Relações de animalidade, convições quebradiças sobre a vida certa ou errante, frases de cunho ou meditação filosófica  sempre volteiam em campos que parecem fugir de núcleos gravitacionais emperrantes.

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