Novela “Quatro velhos” tece na terceira idade, a forma de alteridade, de amizade com teor libertário

FERNANDO ANDRADE

Crítico literário e escritor

 

A arte do erotismo teria algo a ver com escrever bem? Suar o corpo num exercício narrativo onde o escritor vista a camisa de seu alter-ego? Claro, que procuro um personagem para falar de erotismo e talvez de retórica, a arte de emprestar as palavras um viés rebuscado, um polimento da cor e matiz no arcabouço textual. Vestir as palavras de beleza muitas vezes não requer talento para se contar uma história que nos emocione na medida de seu cerne emblemático; onde já diria Pirandello, precisamos de bons personagens.

E não é só isso, precisamos relacionar o trote da história, a sua cavalgadura, o seu andar absorvente aos personagens que nada mais são que um barco ao sabor do vento, ou até de uma brisa, mas que estes tenham ode à velocidade do cruzeiro da história. O erotismo pode vir de onde menos se espera. De um amor cortês, de uma amizade à quatro. Não precisa ser arte da violência ou latência do corpo. De algum embate entre Eros e Thanatos.

Está muito mais numa percepção de como a vida pode nos transtornar em mar revolto, em tempestade, ou até falando de teorias sobre dramaturgias sobre a máxima de um boa história: o cerne do conflito. Então contar uma narrativa sobre a vida, pode ser leve, conservador até, adotando o moldura humana de adornar ou adotar sempre os personagens com princípio ativo do mote ou enredo que Luiz Biajoni fez de sua quadrilha, Quatro velhos, novela, Editora Penalux, uma forma de amor compartilhado. Restaurou para isso os motes e moldes dos filmes que a grande indústria americana fazia nos anos dourados do cinema. Que nada mais eram que boas histórias contadas pelos escritores que margeavam Hollywood como Paula Fox que fala em seus livros desta mesma faixa etária que Luiz situa-os, só que nos subúrbios americanos.

Então os quatros velhos do romance do escritor formam um painel cultural de uma sociedade, de um extrato social. Há uma delineação humanística em Luiz, em entrelaçar dois núcleos de relações ou casamentos que se juntam por um feliz acaso do destino, de espaço, pois, Never e Ronald vão morar do lado da casa de Ciça e Lando. Em uma boa história é preciso notar nos microcosmos que situam cada relação entre casais, mas também, como se dá as relações entre os quatro de forma alquímica. Quais as sintonias? As diferenças de pontos de vistas que serão filtradas nas contingências do destino entre um casal que já teve dinheiro, mas hoje se encontra menos afortunado, e um casal que manteve certa simplicidade aparente no olhar ou tocar a vida à diante.

O erotismo é uma forma de segredar confidências no ouvido do leitor? Tramar segredos ou entrelinhas que só serão reveladas em pontos ou plots que reforcem a dramaticidade na forma da história? O erotismo se dá na percepção do leitor que algo como um fato novo sobre Lando irá ou não desencadear uma provável rusga entre os amigos homens. O erotismo parte do leitor em confirmar ou não suas próprias convicções sobre amor, respeito, devoção. O autor não faz de sua escrita um modelo de força para aprimorar a linguagem normativa, ela flui por si mesma, ou flutua leve e prazerosa sobre toda a amplitude da narração.

Cotação: Excelente

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