A Feiticeira
Numa outra hora, vida
Distante
Que perdura pela areia
Reluz, me seduz
Ainda vejo os olhos do Tempo
Vermelhos, congelados.
Sal e mais sal.
Em natureza profunda
Lá, onde não há chão
Mas se pisa em raízes
Se reencontra a carne
De pura seda
Eterna, vasta
Em território escuro
E sem armadilhas.
Nas trevas, o amor brilha.
Um abismo entre os dois olhos
As fachadas me cobrem
listras & marcas
Para quê ser olhada?
ser tachada
três vezes louca
três vezes louca
Escorre…
Despovoada.
Cala a boca
Seca o mar
às pressas
Cicatriz na pele de atriz
Faz-se atroz em um grito tão feroz
a minha garganta.
E árido. Sem ninguém.
Caminhar aleijada
E livrar-se da eternidade
cavada para além
Pro Fundo
de um labirinto fatídico
Apavorante
Que se esconde nessas fachadas,
nessas medalhas.
Serão léguas submarinas
para vencer o tempo.
A minha voz não secará.
Da luta incansável pela gota de vida
eu bebi a sua lágrima
eu recriei nosso remédio
eu te entreguei os ossos
abri as portas do inferno.
(Fui devorada pelos cães)
esperei você ficar nua
e admitir o quanto me procurou
em cada rua
em cada esquina que dobrou
apesar de tanta dor
apesar da carne viva
apesar do medo que grita
apesar do mundo que
morto se anuncia
admitir
o quanto me conhecia
me via
me sentia viva
percorrendo as veias
e os caminhos mais áridos
dentro de seu pavor.
(Eu esperei o veneno se transformar em amor.)
Então, lentamente, deitei-me ao seu lado
para relembrar versos passados
e recriar o instante que
Ainda existe, apesar de tudo.
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