“Os restos do que a lâmina mastiga” – Três poemas inéditos de Sabrina Dalbelo

 

 

empatia

em tempos de cegueira deliberada
a desculpa tem mãos geladas
e vai embora sem se despedir

desculpa, mas
não posso opinar

 

 

substantivo individualista

procura um superlativo
não percebe a grandeza
no comum

recebe as cartinhas de amor
que o diminutivo enviou
da fofuralândia
(todo o individualista tem um único fã)

no abstrato
explica o futuro imperfeito

não conhece coletivo
só o seu umbigo
tão importante quanto o trema

 

 

Quando a verdade tem dono

A verdade inundou o ambiente,
partidária, causou risadas.

“Essa verdade é coisa tua!”, disseram,
porque sabiam que verdade, às vezes, pertence.

A verdade é machado sem fio.
Não apara arestas,
ela corta.

Ela mora na gente, é só deixar.
Fica pesado, mas dá para carregar.

Os restos do que a lâmina mastiga,
pode demorar,
mas se recompõem,
porque verdade também morre se ela cortou alguém
só para machucar.

 

Sabrina Dalbelo é gaúcha, servidora do Ministério Público Federal. Colaboradora do blog “As Contistas”, já participou de diversos projetos antológicos e é autora dos livros de poesias “Baseado em Pessoas Reais” (Poesias Escolhidas, 2017) e “Lente de aumento para coisas grandes” (Penalux, 2018). Inspira-se nas mais variadas coisas, gosta de inventar verbetes e se utilizar dos paradoxos. Acredita que uma pequena palavra pode carregar um conteúdo imenso.

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