“Tanto quanto a mesa ser objeto com vida” – 3 poemas de Fernando Andrade

 

 

metafísica do considerar

Assim como tua cabeça responde…
Os pés da mesa
Respondem ao tampo encaixado.

Um homem é um organismo onde
Tudo és como mãos, tronco, pernas.
Estão cobertos de peles.

A mesa não é um órgão
Mas pode servir para a mãe contar os grãos;
Para o pai se portar na cabeceira e exigir uma oração, antes da comida.

Nesta sexta-feira é importante nascer via gravidez
Tanto quanto a mesa ser objeto com vida

 

 

***

Micro Física do viver

Aonde vou?
Aonde vou?

A um prato com um bife de um animal que um dia também mastigou.
Ao parto de um bebê com sua anima presa ao corpo: um filhote.
No quarto olhando a bagunça de roupas no chão e só encontrando as meias.

Ao dia vinte quatro esperar a noite chegar e querendo de qualquer jeito as ceias,
Vendo pela TV um show de dança libanesa com mulheres dançando com seus saiotes,
Removendo o tártaro que um dia amarelou meus dentes,
Limpando as lentes dos meus óculos para ver o filme de homens com seus cotonetes,
Pagando operários para construírem um novo andar da casa para a vinda de descendentes.

O que sou no prato?
Uma mosca pousada que um dia me castigou.

O que sou no parto?
O olho que vê a moça que deve ser a enfermeira.

O que sou no quarto?
A poça de sangue com o corpo perto da mesa de cabeceira.

 

 

***

Tudo que levo
Louvo primeiro.

Tudo que livro
Devolvo depois.

Tudo que sirvo
Absorvo logo.

Tudo que sorvo
Não de\golo

Tudo que ligo
Só desligo após logar.

Tudo que engulo
Não estrangulo.

Tudo que dá engulho
Não é de dá gula.

 

 

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