Livro de contos planta baixa tece com metáforas e simbologias a raiz ontológica do pertencer ao pouso-morada

 

por Fernando Andrade

(Escritor e crítico de Literatura)

 

Comprar um imóvel na planta é apostar no desconhecido? O olhar quando passa pelo lugar move já uma intimidade  ao gosto do cliente. Cada pessoa é uma ficção daquele espaço. Antes de comprar a família ou morador sozinho cria na imaginação uma rede de conectivos sobre a ligação do banheiro com os quartos. A área de serviço serve à cozinha?

Morar trata-se de projetar o corpo no lugar de morada, ou ninho. Conforme os passarinhos, só que estes sabem voar à distâncias longas. Nesta espécie de tabuleiro onde o jogo não necessariamente estabelece suas regras, pois ter um espaço requer mais uma questão de intimidade do que jogos com dados ( pessoais). A não ser as contas à pagar como luz e gás.

Cleyton Cabral fez deste tabuleiro, seu livro de contos, planta baixa, onde se desenha a planta da habitação. Não especificando moradores, mas desejos e alguns símbolos do que pode significar pertencer à uma casa. Cada cômodo parece ter seu desenho próprio, ou seu arquétipo desejado, localização não geográfica, mas sim afeto-imaginária. Na maioria dos contos o desenho é sempre com veias subterrâneas ou algum tecido linfático. Aquela situação onde células se mantém comodamente protegidas de invasores. Cada parte dos cômodos parece dizer algo camuflado até simbiótico para um leitor que por acaso deite os olhos na planta baixa.

Onde fica a relação de escrita habitual com cada recanto? Cada ponto de fricção com cada pó escondido nos vãos. Por exemplo, a descarga do banheiro com higienização dos intestinos. Cama que expurga os pensamentos descontrolados\pesadelos. Cleyton não sexualiza por demais a planta. Dá seu tom nas reentrâncias muitos sutis e deveras ficcionais para cada cômodo que parece ter um tipo de emoção compartilhada pelo corpo que lhe ocupa o lugar.

 

http://www.editorapatua.minhalojanouol.com.br/produto/13445/planta-baixa-de-cleyton-cabral

Cotação: Muito bom

 

 

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Fernando Andrade é jornalista, poeta e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador da Revista Digital Literatura & Fechadura realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas, Poemometria e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Lançou em 2018, o seu quarto livro de poemas A perpetuação da espécie pela Editora Penalux..

 

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