“uma maçã trincada, jazz moderno, uma imposição vitoriana” – Três poemas de Pedro Vale

 

 

I

 

Sus

tenho,

perduro

a rara beleza

calada e malva

na cápsula

d e   l u

z

 

 

 

II

Os meus sonhos são simples.
bordel e prisão, um vestido dormido, milhões de línguas cortesãs,
uma maçã trincada, jazz moderno, uma imposição vitoriana,
talento comercial, cruzamentos, estações por abandonar, sorrisos
satânicos, belas rameiras, uma precetora desenhada e cobras, e
mais cobras.
Os meus sonhos não sei se são simples.

 

 

 

II

Hoje acordei com uma andorinha no estômago.

A noite era de tempo limpo e sono.
Sabia a quebra milenar, cabelo solto.

Nenhuma angústia, lei, mato ou víscera defronte.

O prédio seguia o seu curso normal de vida, espécie de abrigo impune.
Gineceu.

Observava sem capacidade estrelada o céu, quando a miúda astronomia me
espantou a inocência.

A circular impressão se revelara

.
Tal como no meu estômago, assim uma via-andorinha se alongava, qual
fita emprestada, distraidamente, no ar.

 

 

Pedro Vale –  poeta português, autor do livro Azul Instantâneo, 2018.

 

 

 

 

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