Resenha do livro de Amanda Cardoso “Todas as saudades do mundo”, por Ana Meireles

 

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TODAS AS SAUDADES DO MUNDO, título do livro da Poeta Amanda Cardoso chega aos meus olhos como mensagem diretamente encaminhada ao leitor representado pelo coração, órgão cuja função primaz é fazer circular o sangue que garante a vida. Ora, sabe-se também que a este mesmo órgão se atribui a localização das coisas sentidas, as coisas vividas , como as emoções e os mais profundos sentimentos. Distraída nesta confabulação a pergunta se apresentou sem rodeios: De onde vem “TODAS AS SAUDADES DO MUNDO”, em apreciação a sentida pela poetisa acima mencionada?

Neste propósito busquei escutar nas páginas do livro as batidas do seu coração. Apurei algumas escutas, especialmente aquelas que me sugeriam aceleração dos batimentos cardíacos e/ou diminuição da frequência. Encontrei neste auscultar belíssimas irrigações que já poderia dizer tratar-se da circulação sanguínea transmutada em elemento verbal de poético valor, parte de uma efusão de sentidos que acumulou-se e transbordou dos nutrientes das emoções.

O material subjetivo que rebulindo, rebulindo e revirado, fluiu e encontrou o caminho sublime ou sublimatório da poesia. Pois, alguém duvida que a poesia possa nascer assim, de coisas que ficam rebulindo na porção in-consciente da mente , como conversas intrusas que acontecem num palco em que não há plateia, mas apenas vozes metaforizadas em batidas cardíacas?
Creio que deixar se sentir tocado por “ Todas as saudades do mundo “ como fosse a pele do verbo que tocou a verve poética de Amanda Cardoso é se dar a ousadia de abrir a porta de sua casa-alma e, de modo subliminar e silencioso apurar os ouvidos da caixa cardíaca desejando penetrar nas cavernas profundas do sentir, escutando a voz que se faz ressoar ora em baixo tom feito um cicio, ora como um rompante breve emergido de uma lembrança de dor, mágoa, saudade e despedida.
Para melhor situar o que está sendo dito, recorro ao corpo de imagens representativas estabelecidas pelas palavras da poetisa a derramar-se da sua inegável suavidade criativa, como no poema AURORA do qual extraio a seguinte estrofe:

“Sou como essas folhas secas
Que se transmudam para sempre
Em vestes de trigo, linho
E lírio.”

O livro “ Todas as saudades do mundo” é significativamente emblemático pelo aspecto por mim observado de por em foco a relação dialógica entre as emoções vivenciadas e o ruminar poético que delas podem originar. Daí em amplitude cardíaca recomendar sua leitura.

Ana Meireles

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