Por Fernando Andrade
A natureza está em si e é só. Sólida ou líquida, não liquida seu sal ou contamina ou dinamita o ouro do tolo – o homem que transmuta seu elo -elemento, pois ao dar palavra as coisas, ele dá sentido à elas. Além de retirar do local natural, o sal, ele modifica as (con) acepções de acordo com seu interesse. A velocidade de um barco pesqueiro é o mesmo de uma informação correndo e modificando seu conteúdo semântico?. Mas será perguntando como esfinge que dormita nas areias do Nilo, será culpa da velocidade do homem em criar dígitos; em procriar binário, sua solidão, para facilitar o gargalo da informação. Este barco pesqueiro. Por quê tanta esforço em aferroar um animal dócil ou mesmo fera? Por que temos tanta raiva? do porco. O chiqueiros, não, somos nós com a selvageria constante em nome de quê? ideias ideais.
O poeta Thiago Scarlata, em seu mais novo livro de poemas, Salobre, Editora Urutau, resolveu botar um ponto, e virgula nestas indagações fazendo da poesia, esta mistura ou receita disparatada de ingredientes ou de entes, pois a poética lida com o humano, somente. Diria que a poética é o lado bom da perversão ou do per-verso, amassa a massa humana, para botá-la ao ponto. Transtorna o caldo, entorna a bile humana em outro o uso doméstico, aos usos terapêuticos, como o soro caseiro. Assim como as palavras misturadas podem dar uma infusão ao dolente verso ou doente leitor que num acesso ou espirro vê girar letras, palavras em rodopios em torno da marca da página. Será que alucina?
Thiago numa velocidade modal cria tablets de cenas onde estes pedaços de conteúdos como sal-salário salobre se entropriam sem perda de calor. Partindo de um conceito da aliteração da língua, o poeta desliza o fastio humano em se apropriar e desumanizar seres que estão à margem de si. Vai a carnalidade das coisas para lhe ver o sumo, assim, como o porco vira um assado com uma maçã na boca, bela imagem, nos remetendo ao Éden, onde o paraíso era Adão, apenas, e os animais seres deslocados de uma espiritualidade humana.
Thiago é exímio em contornar sentidos que se deslocam com graça e força pelo verso à verso, translitera relações conotativas e denotativas em segundos, faz uso da animalidade não como metáfora, e sim como veia alegórica, talvez ele redimensione a fábula antropomórfica de um jeito que acadêmia gostaria de fazer. Não há substituição de imagens em seus porcos, baleias e vacas. Ele é um pouco, um jurista linguístico que conhece as leis das imagens – palavras, e que sabe das frinchas ou brechas da linguagem.
cotação: excelente
FERNANDO ANDRADE, jornalista, poeta e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemometria, e Enclave (poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Lançou em 2018 o seu quarto livro de poemas A perpetuação da espécie, Editora Penalux.
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