Fortuna crítica de Fernando Andrade

 

 

O Enclave por José Fontenele

O Eu lírico em “Enclave” é errante, melodioso e provocador. Consegue tirar poemas de um leão trovador: “Um violão num canto/ Foi deixado ali sozinho/ numa espécie de pranto / Quanta espera há numa canção?”, trecho de “Leão Trovador”, e chega a comparar a opinião com um infantil e espasmódico pião: “Quem viu? / A opinião / Rodar qual feito pião.” A última metáfora, aliás, busca unir a subjetividade ao exercício da reflexão, um impulso continuado por outros versos do livro, como no trecho de “Erros cinéticos”: “Uma vida adulta / Para ti, só circunstância?”.
“Rotas”, “Querenças”, “A sala”, “Desaparição”, “Espaços”, são poesias que se agrupam no tema do espaço íntimo e coletivo. O Eu lírico metaforiza o cômodo dedicado a si mesmo e, paralelamente, tenta desvencilhar-se do enclave íntimo para a teia social, contudo, prudentemente, reflete primeiro sobre o espaço de cada um no conjunto sufocante de rotas que cortam a coletividade. Esta a outra contribuição do poeta: reflexão sobre o local íntimo e a inserção na sociedade. Uma possível retomada as raízes particulares que posteriormente permitem melhor fixação no intricado ambiente social que povoamos.

 

 

A perpetuação da espécie por Marcelo Adifa

“Em a perpetuação da espécie livro de poemas editado pela paulista Penalux Andrade demonstra sobriedade de quem vê o outro com a qualidade de um agente ativo da escrita, embora retirando-se da ação para fazê-la em construção. O poeta não quer erigir enredos, incorpora sua verve jornalística e relata fatos, oníricos ou precisos, imagens e formas. Sua presença é importante, não ditando fatos, mas pontuando o cotidiano de poesia. “

 

 

A perpetuação da espécie por Alexandra Vieira de Almeida.

Este livro fabrica auroras e ocasos, luzes entremescladas de afetos e lembranças que se movem com liberdade. A liberdade da criação pulsa neste poeta magistral que utiliza a língua à favor de uma revolução estilística. O autor carrega uma marca toda própria, não imita padrões e subverte a língua num propósito que una som e imagem.
As fortes aliterações produzem imagens dilacerantes à cortar a carne do mundo, expõe com fluidez nossa dose de humanidade, além dela própria, perpetuar espécies além do tempo, da memória e dos gêneros. Toda uma indumentária que é criada por uma sociedade falida em receitar doses narcóticas de empobrecimento em nossas identidades. A identidade aqui não é regida por padrões de bom comportamento. Temos várias identidades que brincam com tempo mortais do sentido. 
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