O espaço que me foi destinado para apresentar os poemas de Alexandra Vieira de Almeida chama-se orelha, portanto muito adequado para uma poesia que se relaciona tão fortemente com a orelha, com os tímpanos, com o ouvido interno da leitura, com os labirintos que o som percorre para encantar/alertar o leitor. Sem promover as escalas de uma musicalidade fácil, o som destes poemas remete a uma síntese entre imagem e ruído, como aponta o verso do inaugural “Vertigem”: “arabismos de uma música inumana”. Os versos, predominantemente extensos, arquitetam imagens cuja relação próxima com o som faz figurar a experiência de uma poesia que se dirige ao ouvido do leitor: “Ouço um suspiro na noite/ da torre de sete portas, hortas” (“Cemitério sentimental”). O leitor deve se preparar para estes poemas, ora cantos, ora sinfonias, por vezes ruídos de uma experiência que transita entre o sonho e o rito.
Marcelo Santos
A literatura de Alexandra Vieira de Almeida percorre três linhas básicas que podem ser observadas desde 40 Poemas até Painel, os dois primeiros trabalhos em poesia, e que se seguem neste volume, Oferta, por ora apresentado.
(…) Em Alexandra, o curso da dicção literária beira o limite do cânone entre a prosa e a poesia. Em que pesem as classificações acerca da Teoria Literária, a poeta escreve poemas em prosa ou prosa poética, valendo-se do domínio adequado do tempo para cada texto produzido.
(…) O segundo viés presente ao ler a obra da poeta é a verve pictórica que lembra o cinema. Há algo abstrato na linguagem por meio de substantivos e adjetivos que fazem as palavras adquirirem um olhar macroscópico do mundo.
(…) A terceira linha básica da poética alexandriana reside na grande profundidade a que se destina, trata-se da verve filosófica. É uma literatura que necessita do silêncio, do claustro para a absorção do texto, tendo em vista que a mensagem é de uma leveza surpreendente. Os poemas são goles de vinho a serem sorvidos gradativamente, em pura meditação.
Luiz Otávio Oliani
Quando se vai a um poço não é o entorno, a superfície que buscamos e simo que existe no seu interior. É dessemodo que o leitor deve ler a poesia de Alexandra Almeida. Neste livro, com uma linguagem aparentemente hermética, a autora nos brinda com uma gama de poemas que precisamos olhar, como no panejamento de uma escultura barroca, o que se esconde entre suas dobras. São muitas as faces ocultas no trabalho desta poeta. Mas, numa leitura atenta, elas vêm à tona e revelam seus múltiplos entrelaçamentos.
Maria Joana Rodrigues Colin
Verbo significa “Palavra”, designa ação. Palavra é domínio sobre o mundo. É assim, de palavra em palavra, de uma ideia que puxa outra, que Alexandra Vieira de Almeida, professora dada às Letras e à crítica literária, constrói este livro de poemas.
(…) A primeira parte, “Dormindo no verbo”, a mais longa e que dá título ao livro, parte do princípio, da força das pedras, do “entremeluzir das pedras”, do “orgasmo oco de pedra, de terra, de sal”. O próprio poeta é aquele que trabalha com “palavras lânguidas”, mas tem “os pés machucados por pedregulhos”. Dormir no verbo tem algo de mineral, de altar de pedras preparado para fogo e sacrifício.
(…) A segunda parte, “Vida e morte cerebrina”, intrigante jogo com a expressão “Vida e morte Severina”, de João Cabral de Melo Neto, expressa uma preocupação em compreender o mistério da loucura, os meandros da mente do poeta, irrigada de sangue e emoção, o circo da mente onde gravitam os neurônios do artista, as viagens mentais e sonâmbulas, os sons vagos do cérebro. E a lenha, o combustível da mente louca e lúcida do poeta, é a imagem, a metáfora.
A terceira parte, “Verbo em chama”, traz o erotismo da palavra, a chama da palavra inaugural, a dança e a vibração prometeica do fogo. Chama: verbo que sobe em fulgurações.
Raquel Naveira
Se, consoante anuncia desde o título, está a poeta Alexandra Vieira de Almeida dormindo no verbo, uma questão desponta e percorre o livro: quem age na criação? Quem a comanda? De quem é a ação originária? E pensamos: esse modo de perguntar está adequado? Se a ação é originária, não há quem. Seria, assim, preciso indagar primeiramente se a criação pressupõe mesmo um sujeito criador, um fundamento, ou se afinal ela é o sem fundo se fundando e fundando afundamentos. Desse modo, estaria a verve poética de Alexandra Vieira de Almeida já a dizer-nos, logo de início, e até o último de seus versos, da necessidade de adormecer o sujeito no verbo, no sentido de acordar a poesia como a ação primigênia, abissal, vertiginosa e auto-móvel que ao humano se antecipa e o ultrapassano princípio de sua existência. Mas o que é isto que chamamos, no princípio, de verbo? O que diz a palavra princípio? Qual, o princípio da palavra?
Igor Fagundes
Debruço-me sobre Oferta, livro de Alexandra Vieira de Almeida, publicado em 2014. A primeira leitura que fiz dos poemas me levou a um estado onírico de cintilações e mistério, porque senti que os poemas se erguiam das páginas pelos lances e gestos de uma arguta e fina inteligência e pelo intrincado engenho de um jogo lúdico. Diz ela: “Descubro a flexão terrestre / nas suas palavras molhadas de sono” eainda:“As palavras molhadas de insônia / vagueiam pelas areias quentes”. As “palavras molhadas”, talvez, de uma gota de lágrima, capaz de nutrir o ser de uma dupla participação na matéria poética: “o sono” e seu oposto, a “insônia” e levá-lo a uma metamorfose de íntima substância amorosa. Mas, também, necessita “ de letras secas / das folhas campestres que saboreiam o vento”, das letras formadas pelo desenho das folhas que se agitam ao vento. Esta “fala” mais antiga, sagrada de nós (de letras) estabelece o universo poético da Autora.
Lina Tâmega Peixoto
Foi lançado recentemente pela Editora Penalux o novo livro de poesias da escritora Alexandra Vieira de Almeida. Em Dormindo no verbo,estão reunidos 67 poemas divididos em três blocos “quase temáticos”, a saber: “Dormindo no verbo”, com 44 poemas, “Vida e morte cerebrina”, com 15, e “Verbo em chama”, com 8 poemas. Um livro muito bem pensado, muito bem arquitetado e logo diremos por que.
(…) À medidaque avançamos na leitura, sentimos que algo lateja naquela poética a demonstrar que a criação literária não se dá pela livre e espontânea vontade de um sujeito, ela é sempre uma emergência, uma irrupção involuntária e arrebatadora.
(…) A leitura de Alexandra Vieira de Almeida nos leva a fazer conexões com o pensamento de Gilles Deleuze (1925-1995), um filósofo que se diferencia da maioria dos filósofos da tradição do pensamento por manter vivo um diálogo com a literatura que vai se formando como um rizoma (sistema aberto onde os conceitos são relacionados a circunstâncias e não mais a essências) a florescer para todos os lados.
Krishnamurti Góes dos Anjos
Querida poetamiga, com uma poesia forte e bem estruturada. Domina a linguística poética, de lirismo contido, mas presente em seus versos. Eu a indiquei para o prêmio de melhor livro de poesias editado em 2016 (conteúdo), junto a Senadoria Cultural Latino Americana, presidida pelo querido poeta, ilustre Dr. Agostinho Rodrigues. Ela merece.
Anna Maria Fernandes
Belíssimas imagens, construídas de forma firme sobre conteúdo de forte impacto socioexistencial. Tivesse de pintar um painel, as figuras caleidoscópicas de alguns poemas já dariam em vertiginosas pinceladas de cores raras. E olha que estou apenas no começo do livro… Para ser mais preciso: na sétima poesia, “Estações do poeta”. Avante!!! Agora vou começar a ler “Dormindo no verbo”. Gosto de entrar no poema como quem se deixa estar nas asas de múltiplos pássaros. E é assim que me vou vestindo da plumagem deles e me tornando um aprendiz dos voos sobre abismos.
(…) O Igor não errou,e eu, ao ler os sete primeiros poemas, acertei: Alexandra, ao intitular seu trabalho poético, Dormindo no verbo, o fez conscientemente, e a intenção se foi construindo ao longo do livro: acordar a poesia, incendiar o verbo. A imagem – escolhida para a capa – traduz bem o que digo acima. Comentei com a poeta Anna Maria Fernandes sobre a força expressiva da poesia de Alexandra Vieira de Almeida, cujo “verbo se preenche de carne / manchando as páginas em branco”. Indicação, pois, merecidíssima!
Cláudio Leal Cacau
Em Dormindo no verbo, temos a materialização da palavra. Primeiro,foi o verbo, criando a realidade. O poema “Dormindo no verbo” fala em carne, sangue… De materialidade e ao verbo que lhe dá origem. Sendo ele, verbo, palavra, o mesmo que a própria matériaque dele provém. Os últimos versos são os mais metalinguísticos. Dessa vez, a matéria, que mancha, preenche o papel. O antes vazio, agora encarnado. Poema bem construído.
Gisela Eiras Reis
Professora e doutora em literatura traz a público uma seleção de poemas, de requintado gosto. Com apelos cotidianos, existencialista e algum erotismo, leva o leitor a um rumo inesperado. Carregados com o sabor inédito, suas ótimas letras transbordam exotismo, quase onírico. Leitura pensativa. Para poucos.
Ralph Peter Brammann
O livro Dormindo no verbo, de Alexandra Vieira de Almeida, é um contínuo ultrapassar poético da metafísica ocidental. Cada poema, cada verso são estertores poéticos do ser, tentando presentificar-se como Poesia no verbo tantas vezes tortuoso de Alexandra. Os entes que nesse poetar aparecem são, uma vez mais, caminhos para que o ressoar da Poesia Eterna seja pleno. Tudo issoaconteceno mais violento temporal poético:relâmpagos, inundações, cintilares de trovões, redemoinhos e sumidouros abalam, cada verso, mais ainda cada expressão, constituindo-se num tsunami contra o estabelecido, na desnudação de um nada, onde todo o verdor da originalidadepossa de novo florescer. O livro Dormindo no verbo,de Alexandra Vieira de Almeida,é um terrificante abalador de pilares que pareciam fincados e seguros para sempre.
Pedro Pires Bessa
A poesia de Alexandra Vieira de Almeida é um painel temático dos múltiplos vitrais da sonolência, mas o livroDormindo no verbo(2016) é um paradoxo em queimada de versos duros, pois alimenta a ação da palavra, pelo lume do estado criativo, movida àJoão Cabral de Melo Neto.
Há um compartimento no livro intitulado Vida e morte cerebrina, em que a metáfora sutil é uma clara referência à razão do autor pernambucano.
Alexandra Vieira de Almeida preenche o seu discurso poético com ardor, ora ampliativa, ora casulo, ora universo de fuzilaria de amor, ora revoada de labaredas em erotismo (de onde retira a substância essencial do seu passo de poeta).
É interessante a marca que define a escrita de Alexandra Vieira de Almeida, porque ela sabe unir a dureza do pensamento com a pluma da sensibilidade, trazendo também, no fundo das suas imagens, a flama ardente da evolução pioneira de uma Olga Savary ou de uma Astrid Cabral.
Outra pedra de Alexandra Vieira de Almeida é a metalinguagem que – na brasa dos poemas – vai incendiando muitas claridades e segredos.
Diego Mendes Sousa
Cara Alexandra: obrigado pela presença na cerimônia de anteontem,e também pela oferta de 40 poemas e Painel, que, desde logo,têm o mérito de buscar imagens originais e, muitas vezes,enfrentar o desafio do verso longo. Parabéns!
Cara Alexandra, Dormindo no verbo me deixou bem acordado. Parabéns! Endosso as boas palavras de Raquel e Igor sobre seu livro, que consegue manter o Verbo em chama.
Antonio Carlos Secchin
Para ler Dormindo no verbo,é preciso inflar os pulmões e deixar-se queimar nas labaredas. Perceber cada relevo e sombra dos poemas. Suas raízes; a relação com a natureza; a matéria e o etéreo; a sensualidade. Alexandra Vieira de Almeida tira o leitor da zona de conforto, levando-o a sentir, no mais amplo sentido. Porque os poemas são pura sinestesia.
Teresa Drummond
Acabo de receber essa lindeza aí, trata-se do novo livro da poeta, ensaísta, resenhista e Professora Doutora Alexandra Vieira de Almeida, o livroDormindo no verbo, em uma edição primorosa pela Editora Penalux, eque tem o prefácio escrito pelo Professor Doutor, poeta e ensaísta Igor Fagundes.
O livro é a minha indicação de leitura aos poetas desse tempo. Porque aqui começo a viagem pelas páginas:
Azul que corta, na face
o verbo que tremeluz
no papel da terra
Soterra imagens na fímbria
das páginas brancas
Terra que esconde pequeninos seres
Na haste da planta a gana da semente
a esmiuçar gestos do so
Airton Souza
Dizem que os poetas brincam com as palavras. Prefiro os que levam a palavra a sério. Como do verbo se faz a vida,e o silêncio,a morte.
Palavras desmoronam muros mais facilmente que constroem pontes. No ver de Alexandra: “Entre a verdade e a palavra/escolhe as letras equilibristas/que morrem no abismo…”
Em Dormindo no verbo, as palavras, por vezes,soterram ou fazem o avivamento da poesia, simples e não de rocambólicospoetares.
De certa forma,é no seu próprio dizer: “Os livros entopem o abismo”. A poesia deixa de ser ponte, é aterro! Experimente! (E.C.)
Eduardo Cruz
Seguem as primeiras impressões do belo e surpreendente livro de Alexandra Vieira de Almeida. A poeta abraça a tese estética do ilógico como força criadora e desenvolve o livro de forma coerente adotando essa posição fundamental. Perfeito! Afinal, conforme está formalmente declarado, “o poeta é um indigente da mente.”
O título Dormindo no verbo já instaura o clima de sono/sonho que prevalecerá ao longo da obra que percorre “as florestas encantadas da mente”, dando as costas à “razão fajuta”. Trata-se, portanto, de uma “viagem interior”, explícita no poema “Viagem na mente”.
Em total harmonia com o espírito criador, a autora utiliza uma linguagem altamente pessoal, alicerçada em conexões subjetivas de cunho inconsciente e associações de ousadia ilógica, consolidando o objetivo central da “loucura sagrada”. Não entrarei aqui nas digressões eruditas dos surrealistas que exploraram esses recursos. (Isso não a desmerece, pois, afinal,não há nada de novo sob o sol) e a erudição é um mais, e,se estiver além de simples coincidência, um parentesco famoso.
Além desse aspecto primordial de intenso e dramático subjetivismo, observo grande força sensorial na sua linguagem, sobretudo,o predomínio da fanopeia e da metáfora.
Quanto à temática,insisto na hegemonia da palavra, da criação literária. Note-se que até o erotismo está visceralmente ligado à palavra, mais que ao corpo humano desejante.
Todos os elementos mencionados convergem para criar uma poesia de originalidade e grande força. Parabéns! Fiquei contente em apreciar seu domínio poético.
Listo os poemas que mais me impressionaram: “Claridade”, “Envelhecimento”, “Sonho na cachoeira”, “Água”, “Regresso”, “Criação”, “Céu-mar”, “Irmãos”, “O poema”, “Você”, “Voo”, “Justaposição”, “Morte cerebral” e “Metáfora”.
Astrid Cabral
Dormindo no verbo é o pulsar da vida nas palavras, é o acordar, é o espreguiçar, mas,também, o susto. Alexandra Vieira de Almeida e seu verbo, seus versos que nos proporcionam interessante reflexão sobre a vida. Parabéns!
Celi Luz
Commuitaalegria, recebi de presenteo livro da poeta Alexandra Vieira de Almeida. Veio com uma linda dedicatória da autora, da qual me orgulhode ser amiga. Fiz uma leitura apurada, como merece um bom livro de poesia. Algumas vezes, precisei retornar ao texto para ver o que mais havia ali para ser contado. Sempre encontrava um mais além, um algo a ser revelado nas entranhas do texto. Assim é a poética de Alexandra, densa, permeia o imaginário, contudo, encanta pela delicadeza lírica de sua linguagem. Metáforas raras e belas são encontradas a todo instante, configurando uma poética original. Com ritmo próprio e marcante,a imaginação circula livremente,e o que se ouve é a melodia dos versos ávidos por nos atingirem. E atingem. Em cheio, como dardos perfurantes! Não saí ilesa da leitura de Painel, ninguém sai! Impossível não deixá-lo em minha cabeceira. Assim, Alexandra cumpre o seu papel na galeria dos escritores deque gosto e escolho para deliciosas releituras. Parabéns, Alexandra! Muito obrigada por ter se lembrado de me dar um exemplar.
Marcia Mendes
Em meus 42 anos de experiência como poeta, descobri que poesia que se limita à técnica aos extremos, no meu conceito, não passa de simples construção de poemas. Poetar, na minha concepção, tem que ter, antes de qualquer arquitetura, muita emoção à flor da pele. Afinal, o que move o ser humano é a emoção. A técnica, como um todo, deixemos para as máquinas. E a poesia de Alexandra Vieira de Almeida tem sim muita emoção. Portanto, limitei-me a seguir o sentimento a que a mesma me induzia, simples leitor de poesia.
Rogério Salgado
Alexandra Vieira é uma nova grande escritora, surgindo para fazer brilhar a nossa poesia brasileira. Que seja muito bem-vinda! E a crítica do Krishnamurti Góes dos Anjos é excelente, no ponto. Parabéns aos dois!
Tanussi Cardoso
Opressiva, mas sedutora a sua linguagem, Alexandra. São acabadas, perfeitas, as imagens incrustadas no poema “O pescador e o mar”. A prosa poética de o “Deserto” é mágica e rara, e “Confusão” lembra a Babel na sua imensidão poética. Parabéns!
José Carlos Sant Anna
Belos poemas que nos cumprem, intuindo da vida a devoração: ruidosas águas bebem o ser; ventos da passagem pelo deserto, mais do que a vida de quem passa; a pele a queimar ilusões de monstros. Cortes precisos a conduzir estas miragens.
Roberta Tostes Daniel
Alexandra, muito bons os seus poemas, especialmente o terceiro que me assaltou com uma força enorme! É intensíssimo! Muitos parabéns!
Jorge Vicente
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