Livro de contos Pequenas mortes cotidianas abrem pequenas brechas no real para o espanto da veia poética

Por FERNANDO ANDRADE

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Quando uma metáfora se acende a relação de vida e morte troca de peles como uma cobra se mostra outra? Nesta condição de porte do veneno ser condição da morte mas também soro antiofídico. Mas as imagens dentro da vida como nas estórias também trocam de pele? ou deixam à mostra o que tem em seus interiores, significados, alusões, cores, paletas. As interpéries sempre vieram da escola com graus de dificuldades. Temos os nossos olhos como lentes que absorvem as coisas da vida, umas mais endurecidas que as outras. A linguagem corriqueira do cotidiano é a priori visível à olho nu, mas quando o real vem coalhado de um leite fantástico olhado com lentes que podem deformar o real como se olhássemos Alice e víssemos apenas uma garotinha que não fala com coelhos e não entra em buracos. A lógica cartesiana empírica vista até mesmo numa observação de uma mesa sendo trabalhada para um almoço. Mas a literatura não é esta mesa, apenas.

Seria preciso deformá-la dentro do seu uso cotidiano, com brechas, ocasiões estranhas, eventos com animais que são passíveis de uma sensibilidade, figurativa. Pois o que ocorre nos contos da escritora Paula Giannini em seu livro de contos, Pequenas mortes cotidianas, (Editora Oito e meio) são pedaços de vida que extrapolam o simples percurso de uma ação tranquila, funcional. Como no primeiro conto que abre o livro, a exemplo da cena de uma mariposa voando num ambiente de uma lâmpada acesa, atração pela luz que lhe dá calor de uma termicidade de afeto.  As imagens no conto se deslocam na mera casualidade física para obter um efeito plástico sobre a velhice ou morte relações de causa e efeito também podem conter processos metafóricos que criam uma espécie de elasticidade da moral daquela situação. Como em outro conto passarinho onde a menina se revela boa em ressuscitar aves pelo simples esforço da mente-pensamento.

Todas as relações aqui cabidas dentro do processo de vida, não só ela, mas da liberdade de alçar voos, a garota verti a morte em frêmito de liberdade. Mas ela é questionada na condição de fazer sempre mais, de aumentar a carga + – ou massa do corpo sem vida. Aqui perdendo a inocência do voo ( ave) para algo mais sólido e prático como uma vaca. São contos que lidam com certas adversidades, e aqui sendo olhadas pela autora com um lirismo bonito onde relações entre pai e filho são intermediadas pelo uso político até de uma mudança de gênero ( sexual). Esta marcações entre o oportunismo e livre consciência de que o que importa é seu próprio bem estar consigo. Quando a personagem exemplifica que arrolar esta mordeduras no real são exemplos de pequenas mortes cotidianas.

 

Fernando Andrade é jornalista, poeta e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemometria, e Enclave  (poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Lançou em 2018, o seu quarto livro de poemas A perpetuação da espécie pela Editora Penalux.
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