“a palavra é tiro” – Três poemas de Marilia Kubota

 

conversa entre amigas

para jane sprenger bodnar

cada um tem um jeito de descansar
cada um tem jeito de dormir
cada um tem um jeito de sonhar
sonhar que não tem nada mais a esperar
sonhar como é bom acordar
sonhar vários jeitos de olhar
o que não tem jeito
é deixar de sonhar
o que não tem jeito
é não saber se ajeitar

 

 

(2)

palavra pronta
pro disparo
alvo é o barco
em que estou
em que você está
o silêncio enrola
a ponta da língua
dedo no gatilho
a palavra dispara
estilhaça a noite
o revólver quente
flores caem
afunda o barco
palavra é tiro
quem  navegar
salva o barco
mira o mar

 

 

íris

o sol é formado de pó de estrelas
explica o cosmólogo
fosse gagarin negro ou amarelo gritaria:
a terra é preta!
a cor do planeta refletiu
a íris do astronauta
explica o cosmólogo
no sem-fim da via-láctea
girassóis sempre vivas
enchem o chão de estrelas

 

 

MARILIA KUBOTA é Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná. Publicou os livros Diário da vertigem (2016), micropolis (2014), Esperando as Bárbaras (2012) e Selva de Sentidos (2008) e organizou as antologias Um girassol nos teus cabelos – poemas para Marielle Franco (2018),  Blasfêmeas: Mulheres de Palavra (2016) e   Retratos Japoneses no Brasil – literatura mestiça (2010). 

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