Livro de contos Eu algum na multidão de motocicletas verdes agonizantes media relação social de personagens com seu entorno

AZEHAUGUSTO - Livro de contos Eu algum na multidão de motocicletas verdes agonizantes media relação social de personagens com seu entorno

Zeh Augusto. Eu algum na multidão de motocicletas verdes agonizantes. Ed. Viés.

 

Por Fernando Andrade

Há uma operação lógica na cabeça dos personagens do novo livro do escritor Zeh Gustavo, como uma auto-observação de suas capacidades de ação e reação. Já tinha percebido isso numa auto-ironia de Sérgio Sant’anna que seus personagens parecem que se ouvem mentalmente numa espécie de auto-escuta. É como um movimento de narração para fora-e-dentro. Uma auto consciência de suas ações no percurso da trama onde cada personagem se insere. Lendo Eu algum na multidão de motocicletas verdes agonizantes, Editora Viés, tive esta mesma, percepção de personagens que vivenciam situações sociais onde se perdem os processos de individuação perante a mais valia do mundo das ruas e cidades.

 Até há uma individuação, mas ela não é validada por aceitação de um status social, onde os personagens são cooptados pelo sistema. Gustavo, talvez vá um pouco mais longe do que Sérgio, pois o autor, aqui resenhado, movimenta todo universo mental de suas criaturas, criando um universo linguístico próprio com neologismos- palavras aglutinadas, numa espécie de semântica própria da relação da pessoa com seu entorno.

 Além de existir uma espécie de fatalismo, onde os personagens reagem até determinado ponto em suas condições sociais, nunca as modificando para melhor, e sim uma ironia benfazeja em aceitar o entorno do jeito que é. Se pensarmos que o fascismo é mudar os outros e o ambiente para o jeito do que o eu (ego) é ou está, aqui Zeh parte pelos seus personagens pelo estatuto da transgressão do individualismo capitalista. Ver o entorno com a beleza de suas contradições, com falta de juízo em destituir a banalidade do mal. A linguagem para o escritor parece a única possibilidade de descondicionar o homem de sua prisão social. Quando se liberta a palavra tanto de jugos como de sua operacionalidade formal e semântica, criando a bagunça onde moldes e modelos podem ser rejustificados.

 

 

 

Fernando Andrade 230x230 2 - Livro de contos Eu algum na multidão de motocicletas verdes agonizantes media relação social de personagens com seu entornoFernando Andrade, 50 anos, é jornalista, poeta, e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas Poemoemetria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Lançou em 2018, o seu quarto livro de poemas A perpetuação da espécie pela Editora Penalux.

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