Entre
a fera repousa agora
no imenso deserto que invento
entre a boca e o colo
mas quando suas garras
cruzarem o escuro
abrirei a porta
e beijarei seus olhos
até que me queira
até que me cale
até que me diga
tenho, tenho que acordar
Cordilheira
tudo em você é destino:
a arquitetura dos labirintos
a linha indivisível do meio-dia
a palavra cordilheira
tomando o chão das coisas
tudo em você é cume e partida
fuga de Dédalo, asas de Ícaro
mas destino, alice
não é um lugar
Pele
a verdade
é que meu ombro não comporta
um pássaro negro
já tenho este mapa
tatuado em minhas costas
este céu de linhas vermelhas
este corpo tornado templo
de todo desejo e selvageria
e você sabe:
palavra alguma detém a jaula
palavra alguma impele o voo
palavra alguma alcança a porta
é sempre do olho o último grito
Daniela Delias nasceu em Pelotas, Rio Grande do Sul. Em 2012 publicou seu primeiro livro de poesia, Boneca Russa em Casa de Silêncios, pela Editora Patuá. Em 2015, pela mesma editora, publicou Nunca estivemos em Ítaca, também de poesia. Tem poemas publicados no Livro da Tribo, em revistas literárias e nos blogs de poesia Sombra, Silêncio ou Espuma (danieladelias.blogspot.com.br) e Alice e os Dias (deliasdaniela.blogspot.com.br). É também psicóloga e professora universitária. Mora na Praia do Cassino, em Rio Grande, extremo sul do país.
Muito bom, gostei!
Obrigada, Sandro!
Abraços