Três poemas de Claudio Willer

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De Estranhas Experiências, livro de 2014:
ANOTAÇÕES DE VIAGEM

 

 

MEIO-DIA

a Terra respira
formigas transitam por suas nervuras
arabescos de pássaros
pontuam o pausado discurso das nuvens
só existe o espaço
a paisagem lacustre
que agora cobre uma cidade submersa
e sem saber por que vim parar aqui
o que me trouxe a esta fronteira de lugares e sensações
entro n’água
a claridade me leva à deriva
flutuo no amplo
embebido no dia mais que morno
sei-me hóspede de quem tenho sido
(a superfície do lago
se desmancha no movimento dos círculos concêntricos)

 

 

PRAIA NA ILHA

é assim que eu gosto: ninguém por perto
só o acolchoado de areia macia
estendido entre as dunas
onde o esforço de andar
transforma os passos em gestos voltados para baixo
na direção do caldeirão
onde se debate a fumegante cordoalha
labirinto de convulsões
vazio atravessado por espasmos
novelo de tentáculos de espuma, de correnteza polar
e as mãos de gelo
que apertam a garganta e deslizam pelo ventre
são as labaredas de mar, ganchos fincados nas costas
para nos arrastar ao fundo
– penetrar nesse abismo
é navegar o dorso da morte, transformar a consciência
em pátio de ventanias –
mas, no entanto
não somos daqui
viemos de muito longe
para descobrir a derradeira praia deserta
no costão oceânico da ilha
cercada por muralhas de vento e claridade
onde cobertores de maresia
são estendidos sobre nossos corpos
mansamente reclinados
sobre a pele dourada do Tempo

Praia Mole, Florianópolis, 1981

 

 

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Claudio Jorge Willer (São Paulo2 de dezembro de 1940) é um poetaensaístacrítico e tradutor brasileiro.

Graduado em Psicologia pela USP (1966) e em Ciências Sociais e Políticas pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1963), obteve o título de Doutor em Letras, pela FFLCH-USP, na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, com a tese “Um Obscuro Encanto: Gnose, Gnosticismo e a Poesia Moderna”, aprovada com distinção em 28 de março de 2008.[1] Completou pós-doutorado em 2011, também em Letras na USP, com ensaios sobre o tema “Religiões estranhas, misticismo e poesia”.

Como poeta, Willer distingue-se pela ligação com o surrealismo e a geração beat. Ao lado de Sergio Lima e Roberto Piva, é um dos únicos poetas brasileiros a receber menção do periódico francês La Bréche – Actión Surrealisté, dirigida por André Bretonem fevereiro de 1965.

Como crítico e ensaísta, escreveu em vários periódicos brasileiros: nos diários Jornal da TardeJornal do Brasil (caderno Idéias), Folha de S. Paulo,O Estado de S. PauloCorreio Braziliense, nas revistas Isto É e Cult e em publicações da imprensa alternativaindependente: jornal Versus, revista Singular e Plural, jornal O Escritor da UBELinguagem VivaMuito MaisPágina CentralReserva Cultural (cinema) e outras.

Seus trabalhos estão incluídos em antologias e coletâneas, no Brasil e em outros países, além de uma bibliografia crítica, formada por ensaios em revistas literárias, resenhas e reportagens na imprensa, além de citação ou comentários em obras de história da literatura brasileira, como as de Afrânio CoutinhoAlfredo BosiCarlos NejarJosé Paulo Paes, Luciana Stegagno-Picchio.

Ocupou cargos públicos em administração cultural e presidiu por vários mandatos a UBE, União Brasileira de Escritores.

Co-editou, com Floriano Martins, a revista eletrônica Agulha, de 1999 a 2009. Ministrou inúmeros cursos e palestras e coordenou oficinas literárias em universidades, casas de cultura e outras instituições.

FONTE: Wikipedia

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