1
seria musicista se os dedos
não destoassem tanto sobre
as teclas do piano sobre as
teclas do teclado elétrico
mandado trazer do paraguai.
seria ator de teatro barato
palhaço de circo mas daquele
circo montado no pasto ao
lado da escola de pimeiro
grau – o primeiro suspiro.
seria piloto de fórmula 1
não tivesse batido o kart
naquele monte de pneus
onde só fui porque murilo
pagou a minha parte.
escritor então pareceu
mais fácil embora o vício
de publicar repetidamente
em papel o que caberia
numa conversa de almoço
de domingo
se ousássemos
se soubéssemos.
2
subir ao último andar
pelo elevador e descer
as escadas degrau por
degrau.
subir ao último andar
pelas escadas e descer
pelo elevador todos botões
apertados andar por
andar.
rastejar no estacionamento
nos corredores bater à porta
dos vizinhos se esconder das
câmeras.
cumprimentar o síndico a
recepcionista os dois porteiros
dia sim dia não para fingir
que não se trata de prisão
inaugurada que está a temporada
de home office.
3
Eram as pedras, eram
as pedras – depois foi
asfalto e velocidade.
Eram as pedras e os
pés sangravam, os dedos
doíam, a perna mancava.
A cada tropeço, a cada
topada, lembrava do dito:
eram as pedras.
No alto da ponte, bolsos
cheios delas, os olhos
abertos: as pedras,
as pedras.
(A Alberto Lins Caldas)
Marcelo Labes nasceu em Blumenau-SC, em 1984. É autor de Falações [EdiFurb, 2008], Porque sim não é resposta [Antítese, Hemisfério Sul, 2015], O filho da empregada [Antítese, Hemisfério Sul, 2016], Trapaça [Oito e Meio, 2016] e Enclave [Patuá, 2018 – no prelo]. Integrou a mostra Poesia Agora (edição carioca), em 2017. Tem poemas publicados em Mallarmagens, Livre Opinião – Ideias em Debate, Ruído Manifesto, Cidadão Cultura. Edita a revista eletrônica ‘O poema do poeta’, onde publica originais manuscritos, esboços e rabiscos de poetas e ficcionistas.
www.ruidomanifesto.org
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