Três poemas de Guilherme Zarvos

GUILHERME ZARVOS George Quaintance Night in the Desert 221x300 - Três poemas de Guilherme Zarvos

George Quaintance

 

 

 

THIAGO E DOIS OU TRÊS PLAYBOYS

O esperar dormir, a manhã que dormi 11:30
Meu amigo teve pneumonia mas aspirava aspirar
Acompanhei
Como acompanho a insanidade fútil dos jovenzinhos
Decadentes, mais decadentes que seus pais que
Perderam dinheiro na Bolsa, pai
Tu que era poderoso e tudo me prometia
Os jovenzinhos heteros na troca do sugar
Quando o vampiro está enjoado de sangue pífio
Quem sugaria o pênis de porra nova
Dos jovenzinhos de arrogância bastarda
Seus mamilos delicados poderiam ser alvo de lambidas
No outro dia qual é o cheque salvação
Os jovenzinhos do Leblon de Santo Agostinho
Quem conheceu Agostinho sabe que ele
Não tinha vergonha da consciência de sua vergonha
Daí a beleza de seu andar de shorts largos
Corpo magro crescendo e a obsessão
Pela mãe e pela praia e jogos de corpo, bola
E vela. Os jovenzinhos da boêmia desesperada
São os seguidores do falo paterno. Não realizam
Que já possuem os seus. Bem-formados
Impotentes. Usados com o cuidado de higiene
Pudica. Os jovenzinhos do final da noite, aqueles que
Se conheceram no Agostinho, ainda acreditam no
Sucesso falso já que o verdadeiro exige
Trabalho ou escolha divina
Os jovenzinhos dos que acreditam em dinheiro não
poderão ser escolhidos, mesmo que agressivos
A bolsa pode ser suas vidas
Pequenos. A bolsa da mãe, de onde saíram
Só despertam quando o horror desafia suas lindezas
inúteis
A solidão dos soldadinhos do nada é a solidão dos
Soldadores do nada
Desejo dormir dormir. Entretanto a poesia chama com
Som e fúria do débil que tem o conhecimento da
Força de cada palavra.
Desculpem-me Thiago e os três playboys
Sou tão patético quanto vocês quatro
O gentleman, que também está na mesa, me olha e
Prevê que fará publicidade publicidade
Atônito e sem coragem de abrir a boca frente
A tanta vulgaridade um dia me esperará
Pegarei o verdadeiro Agostinho e passearemos
No meu karmanguia amarelo-claro
O sol não atrapalhará nossos olhos
Momentaneamente ingênuos.

 

 

THEREZA

Visito minha mãe no Jardim Botânico
Faz dois anos que ela morreu
Parece que faz uma vida
Tenho tanta saudade
Das conversas
Do uisquinho, até do barulho nervoso do gelo
O excesso de uísque ajudou a matá-la
Pena que os excessos matem
Já conheci quem morreu de amor
De excesso e falta

A árvore que eu e minha irmã escolhemos para
depositar suas
Cinzas não tem nada de excepcional
É um Tiliacea da Malásia
Ela me parece velha
Foi um descuido espalhar as cinzas numa
Árvore que pode tombar logo
Mesmo antes da minha morte
Me parece um canto agradável
Ela deve estar contente no céu
Estou aqui na terra

Depositar cinzas de cremação no Jardim Botânico
É proibido. Tirar fotos de casamento pode
Imagino se todos depositassem seus mortos no
Jardim Botânico se assemelharia ao Ganges
Todo humano deveria passar uma tarde
Olhando uma cremação do Rio Ganges, na Índia
Depois de pôr fogo no morto, com a presença da
Família, com um pedaço de pau dilaceram-se os
Ossos e o crânio que são muito resistentes ao
Fogo. Tudo é calmo e sagrado. As cinzas vão para o rio

Minha mãe não sofreu muito ao morrer
Eu e minha irmã ficamos contidos. Nossa família é
Assim. Fatalista. Já me falaram que é um resquício
Aristocrático. Sempre nos orgulhamos da
República. Em volta da Tiliaceae nasceram cogumelos
Cada vez que visito minha mãe tem novidade
Em volta da árvore. Minha mãe está sempre
Presente e o chão sempre apresenta surpresas
Os cogumelos formam um ajuntamento
como uma ninhada
Do meio salta uma flor! É da raça das Therezas.

 

 

A bicha do ap 22

Morei num quarto e sala
Por + de 2 décadas
Na rua Rodrigo Otávio
Ser jovem é suportar de tudo
Viagens amores não correspondidos
E aumentar Alegria
O jardim do entornol em argonauta era belo
Muito belo
O fazimento do baixo gávea
Ou o erguimento do CEP 20.000
Anos 80 e 90
Cieps do Darcy Ribeiro
Rock Brasil
E a fala que fala CEP
No ap fazer barulho e ouvir também
Fumar beber e ser amigo das baratas
E da lata fumar quem achou
Muito bom lançar latas com maconha
Apitar contra policiais vergonhosos
Estar com Pedrão, assassinado, em sua
Barraca música gatinhas e gatões
Arrombamento tiros roubos
O sórdido rondava como sombra
Junto com o muito feliz
Rolava
Sem saudade ou nostalgia
Saltitei com centenas de flores
Não suportaria o sórdido
Se não sorrisse
Sóbrio ou bêbado
E minha grande timidez
Encontrar nas cores no papel
Para além das palavras
No instante do instante do Pires
Sou mar e oceano a ser conquistado

 

 

 

 

Guilherme Zarvos atualmente vive em Maricá (RJ) e é autor dos livros Beijo na poeira (Pós-diluviana, 1990), Nacos de carne (Francisco Alves, 1992), Ensaio do povo novo (Francisco Alves, 1995), Mais tragédia burguesa (7Letras, 1998), Morrer (Azougue, 2002), Zombar (Francisco Alves, 2004), Branco sobre branco (Ateliê editorial, 2009), Lições educacionais para Tintum (Nonoar, 2012) e Olho de lince(Circuito, 2015). Nos anos 1980, foi assistente de Darcy Ribeiro na elaboração dos CIEPs. Em 1989, junto com Chacal, criou o evento Terças Poéticas e em 1990 o CEP 20.000 (Centro de Experimentações Poéticas 20.000) que já existe a mais de um quarto de século.

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