Livro de contos 23 minutos contados no relógio fricciona as relações sociais partindo de uma certa sátira ao politicamente “familiar” (correto?)

 

 

Ei você aí, você mesmo. Já pensou ser a literatura um antídoto anti-stress, um anti-método para andar com passos leves pela existência palmilhadas de percalços.

 Da ortodoxia política até a libertinagem anti profissa, a ficção ou a melhor dela, tem se comprometido com o desvario; com certa errância do homem pós-moderno que acerta no bilhar, mas não quer levar o milhão seu nem o tal quinhão. É melhor uma sinuca de bico – um porquê existencial acumulado num pôquer com cartas marcadas ou travadas.

 Assim vejo o tal Dimas, do primeiro conto do espevitado livro de contos do André Simões, 23 minutos contados no relógio, (Editora Patuá) que não apresenta em nenhuma hipótese ou ainda tese (senões) de regra estilística ou ficcional. Acredito piamente que se possa fazer o anti- personagem ultrapassando o anti-herói, isto é justo.

 É neste ponto que aposto no digníssimo Dimas que leva a vida na flauta e bota a boca no trombone quando o assunto é princípio de vida (seu). Calma gente, vou falar dos outros contos, mas é que Dimas é inenarrável de simpático, e muito persuasivo. Seus amigos o adoram, e André parece nutrir um certa simpatia por ele, pois como na melhor sintonia de autor-leitor  não julga seu personagem.  Ele não trabalha, pois tem certo bom guarda-chuva econômico com seus pais. Além do mais é um galanteador com as mulheres e como os amigos na medida certa? da camaradagem. Ele ajuda mas falou em dinheiro…  sai fora e some não deixando endereço nem paradeiro.

 É interessante notar como o autor empresta certa condução temática à este primeiro conto para o restante dos contos. André vai trabalhar incrivelmente como se movimenta as relações sociais, mas não pelo viés completo de uma micropolítica com matiz ideológica. Ele vai referenciar esta rotina de seus personagens através de certos fetiches que cada personagem vai contextualizando com certos objetos de uso-cena, ou certos padrões culturais muito ligado à produtos culturais viciantes? ingredientes achocolatados, neuroses psicossociais.

 É como se Andre olhasse o humano com um raio x reverso onde as idiossincrasias partissem de dentro para fora. Como se o lado b do homem fosse mais inventivo ( e hilário) que o lado A ( entorno).  As fixações, as neuroses toda esta parafernália psicossocial, o autor redefine literariamente de forma muito arguta, desde revelando o sujeito que não caga fora de casa até um obsessivo colecionador de multas. Poxa, até me esqueci do Dimas que ao ser chamado para ser um identificador de POI ( partícipe de opiniões identitárias), responde aos ouvintes sobre questões do mundo contemporâneo.   

 

COTAÇÃO: ÓTIMO

 

 

 

afernandoab 300x300 - Livro de contos 23 minutos contados no relógio fricciona as relações sociais partindo de uma certa sátira ao politicamente "familiar"  (correto?)FERNANDO ANDRADE,  jornalista, poeta e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemometria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Lançou em 2018 o seu quarto livro de poemas A perpetuação da espécie,  Editora Penalux.

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