“Seguindo o rio imperioso Inca dos grandes feitos” – Três poemas de Carmen Fossari

 

 

FRIDA KHALO, TUAS CORES NOS HABITAM

Soltei os parafusos do tempo

Voltei ao Zócalo da multidão

Que caminha desde

Cortéz

Desde os gritos da dor

Desde os Verdes pintados a

Vermelho, invasora presença

Prolongada presença invasora

Agora vizinha presença

Das cerceadas vontades

Das tratativas de romperem

Os mapas Maias do conhecimento astral

Da vida a contemplar

Pirâmide de Sol e Lua

Pousando aos campos a semeada esperança
Os murais de Diego Rivera, imponentes

Seguindo o rio imperioso Inca dos grandes feitos

Estanques totens Estelar início

Murmúrio chiados

Chiapas resiste nas cores tecidas

Em flores bordados

Em laços cetins

Ornando as tranças

Cabelos negros

Crianças na argila

Moldando uma vida

De água pouca e luz profunda

Distrito Federal de coração verde

Chapultepec, alma do povo

Privatizada a esperança,

O público espaço, sonhado

Liberdade
E a presença de Frida,

Khalo, nunca calou

Nem na dor da alma

Nem na dor d corpo

Ao espelho seu corpo pintava

Em suas mãos o México

Em Dor

Em flor

Em cor

O Diego

As mãos e corpos

O amor, as tintas se valsam

A paixão, a casa de flores

O encontro, a outra paixão

A artimanha, pra chamar atenção

Que o amor quer ser amado

Arbusto de seiva

Aos seios da flor
Pintura e pintura

Painéis e bordados

O México já volteia

Na Serra e

La Candona em esperança

Que o amor mesmo na dor

Geriu a pintura que grita

´Pariu nós todos de novo

Na história que nascemos

E na que vamos fazendo

Frida Khalo

A voz em tinta

Que entoou sua dor

Nas cores vivas do México

No país que somos todos

 

 

O AMOR

O amor é como uma criança que surpreende
No sorriso aberto e abraço em ternura
O amor é o corpo que amanhece
Logo que a lua adentra a fresta
Da janela entreaberta
E afasta o sono, abrasando
O buque de desejos, que tatuam o quarto
O amor é o perfume
Extraído do frasco
Do melhor do nosso ser
É o medo de atravessar uma e outra
E tantas vezes a rua da solidão
Que um dia o amor se esvai, transmuta
E já não somos d.amor a presa fácil
É o desejo de sentir n.outro
Um rio jorrando estrelas
Quando o olhar pousa o meu olhar
E a criança que fui, retorna
N.alegria infinda
Da pequena eternidade d.encontro
São tuas mãos cavando a terra
Das árvores ao fruto
Que plantas e me recolhes
Do varal onde lavei minha descrença…
O amor é o manto de estrelas
Onde caminhamos em pensar
Como pássaros, voando
Voando…

 

 

TECLAREAR

Em minhas vazias mãos
Ainda trago a lua plena
Filetes da luz noturna
São uma coroa deste reinado
De águas e fugidias palavras

Tão virtuais imagens nascem
Antes da lua que de minhas
Cercanias se afastam

Nadam destes mares
Teclareando o dia
Nascido da virtual noite
De constelação de palavras
Nadam todas em algum oceano
Cósmico , aonde ali na esquina
Foi ontem,atravessando o
Outro lado da margem…

A Lua nua baila de um som distante
Sigo … nada encontro além de saudades tuas
Em minhas vazias mãos de luz fugidia
De teu corpo do outro lado do rio….

 

 

 

Carmen Fossari é natural de Florianópolis, filha de Domingos Fossari e de Irene Maria Belli Fossari. É mestre em Literatura Brasileira, pela UFSC, com opção em Teatro, e doutora, também pela UFSC, em Engenharia e Gestão do Conhecimento com a tese “Criacão do Conhecimento em Processos Dramatúrgicos à Luz do Texto Literário”. Diretora de Espetáculos do Departamento Artístico Cultural (DAC)/SeCArte da UFSC. Coordenadora e professora da Oficina Permanente de Teatro da UFSC. Diretora e fundadora do Grupo Pesquisa Teatro Novo/UFSC.

Atriz, escritora, produtora e diretora teatral já dirigiu e produziu mais de 60 peças teatrais nas categorias de Teatro Adulto, Infantil de Títeres e de Rua.

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