1
Una mujer camina
descalza en la mañana,
verso a verso
traza un camino
de palabras sin rima, naturales,
sobre la tierra verde de Galicia,
tierra húmeda del roble.
La mañana en su lengua y en sus pasos
huele a monte lamido por la luna,
a musgo y a corteza,
a crujir de bellotas y de ramas.
Acaricio las huellas de su peso,
camino sobre ellas en equilibrio
hundiendo la respiración caliente,
sintiendo en las mejillas,
deslizando los labios
mientras ella camina abandonando versos,
jirones de amor, con todo el sabor
de mi lengua gritándole en la boca.
Uma mulher caminha
descalça na manhã,
verso a verso
traça um caminho
de palavras sem rima, naturais,
sobre a terra verde da Galícia,
terra úmida do carvalho.
A manhã em sua língua e em seus passos
cheira a monte lambido pela lua,
a musgo e à casca das árvores,
a crepitar de bolotas e de galhos.
Acaricio as pegadas do seu peso,
caminho sobre elas em equilíbrio,
sentindo nas bochechas,
deslizando os lábios
enquanto ela caminha abandonando versos,
retalhos de amor, com todo sabor
de minha língua gritando em sua boca.
2
En las manos del agua
viene a dormir la noche
su placidez redonda.
Desprendida del cielo y de la tierra,
envuelve la pasión
mi cuerpo a la deriva.
Nas mãos da água
vem dormir a noite
sua placidez redonda.
Desprendida do céu e da terra,
envolve a paixão
meu corpo à deriva.
3
EPÍLOGO
Aprender la vida a los veinte años
era el encuentro de dos nubes nostálgicas
de infancia y de futuro, era la esencia
fugaz y transcendente de lo vivo
y lo vivido y de lo por vivir.
De aquel tiempo, conservo, sin dolor,
el calor terrestre de algunos cuerpos,
su aroma nativo, bocas morenas,
ojos líquidos, la piel de la noche
y una cierta alegría subterránea.
Hoy, amo de aquellos años su carga
de silencio y de inocencia perdiéndose.
Tal vez, a algunas mujeres. Sin duda,
a aquellas que un día amé y me amaron,
me perdonaron y las olvidé.
EPÍLOGO
Aprender a vida aos vinte anos
era o encontro de duas nuvens nostálgicas
de infância e de futuro, era a essência
fugaz e transcendente do vivo
e o vivido e do por viver.
Daquele tempo, conservo, sem dor,
o calor terrestre de alguns corpos,
seu aroma nativo, bocas morenas,
olhos líquidos, a pele da noite
e uma certa alegria subterrânea.
Hoje, amo daqueles anos sua carga
de silêncio e de inocência perdendo-se.
Talvez, a algumas mulheres. Sem dúvida,
a aquelas que um dia amei e me amaram,
me perdoaram e as esqueci.
Saturnino Valladares (Lugo, Espanha – 1978) é Doutor em Literatura, Mestre em Didática de Línguas e Literaturas, e Graduado em Filologia Hispânica, pela Universidade de Santiago de Compostela, Espanha. Professor da Faculdade de Letras – Língua e Literatura Espanhola, da Universidade Federal do Amazonas desde 2013, é autor de quatro livros de poesia –Las almendras amargas, Cenizas, Secretos del Fénix (este último publicado em edição bilíngue pela editora Valer em 2017) e Los días azules– e de numerosos artigos de crítica literária publicados em Espanha, Brasil, Argentina, etc. Uma versão reduzida de sua tese de doutoramento, Retrato de grupo com figura ausente, ganhou o Premio de Ensaio da Diputación de Ourense e foi publicada em 2017.
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