O escrevido
(“Impressões de viagem sobre o trem “Obras são fonemas”)
Fabiano da Mata | escritor
Já adianto, podem prender ou soltar as palavras aqui, desde que não soltem o capitão. O fato é que quem escreve é (o) escrevido (atrevido), e há muitas balas para gastar, até mesmo as desaplicadas.
Quando sentei para apreciar a paisagem, “uma vista pela página número tal”, acabei por botar muitas reticências, e escrevi isto aqui sem saber que trem tomar, sem saber o ponto de A a B. É fato, não fui em busca de Eurídice ou Rosa, nem fiquei no quadrante. Só sei que fui dividido, até mesmo em algumas paradas necessárias, dadas em viradas de página.
No início, vi estrelas no céu como prenúncio ou “era o verbo”, e fui tomado por um ato de direção do começo de tudo, pela divindade do playing. Vi-me em dupla antagônica e complementar, no diálogo entre formas, ou letra e melodia ou uma só moeda. E numa espécie de imersão, vislumbrei algum pano de fundo de tensão atual da crítica academicista ou estado de coisas políticas: o moderno, o pós-tudo, os Caims e Abels eternos, o dinheiro e o evangelistão, o congresso, a esquerda e a direita…
Embebido em poiesis, apreciei o jogo rítmico em busca do gol, as tensões autorais em torno disso, o uso dos signos e seus pesos. Senti o espaço abstrato das coisas poéticas na sua redondeza difícil para os terraplanistas.
Só sei que neste corpo escrito, usado por alguma entidade literária, talvez, estão alguns indícios do ato ou potência da escrita do autor de “Obras são fonemas”.
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