Fernando Andrade entrevista a escritora Ivani Cardoso sobre o livro ‘Verdades inventadas’

Fernando Andrade:  A aguda observação que Clarice tinha do comportamento humano, suas subjetividades, idiossincrasias, você parece que tem também ao escrever este livro ótimo de contos.  Influência ou admiração. Comente. 

 Ivani Cardoso: Influência, admiração, respeito. Leio muito desde sempre e Clarice foi, e continua sendo, um mergulho constante na alma. Ela é intensa, ela não faz concessões, ela tem a liberdade de ser ela e ser tantas. Eu sempre volto aos seus livros e parece que saio diferente. Ela vai fundo nos sentimentos, mexe e remexe com as verdades. Justamente por ter um bom nível de leitura, quando você escreve pensa que nunca vai conseguir chegar perto dos excelentes autores que te acompanham pela vida, mas essa é a vida, um risco. E tem o momento de dar a cara pra bater. E esperar…

Fernando Andrade:  Há um leve sabor poético na sua linguagem, com imagens que florescem como densa mata tropical.  Fale desta sua linguagem. 

 Ivani Cardoso: Eu gosto de poesia, fiz um curso de poesia com o mestre Gilson Rampazzo que abriu espaço para entender e pensar melhor sobre ela. Poesia está em tudo. Tenho poemas, mas não são bons. Gosto de também me deixar levar por esse caminho, procurando não cair no lugar comum, que é tão difícil. Gosto mesmo é de contar histórias.

Fernando Andrade: No final do livro os contos se tornam mais concisos, como os trabalhou em relação ao resto do livro. 

 Ivani Cardoso: Os pequenos contos foram uma fase. Começaram a surgir do nada, tenho muitos, selecionamos, eu e o editor Marcelo Nocelli, alguns para este livro. Eles apareciam do nada, de repente sumiram. Foi como se eu precisasse buscar mais palavras, mais imagens, mais emoções para me expressar. 

Fernando Andrade:   Os animais fazem parte de certas narrativas. A literatura já usou uma barata, tigres, e o gato às vezes é poeticamente usado em toda sua liberdade. Me fale desses contos. 

 Ivani Cardoso: Eu tenho pavor de lagartixas. Elas me acompanham também na escrita. É mais que medo, elas me paralisam. Por isso resolvi também escrever sobre elas, para tentar aplacar a angústia, em vão. É como se elas me perseguissem, não tem nenhuma lógica ou explicação. A barata famosa da Clarice é universal, o inseto de Kafka é a ficção mais que perfeita, as minhas lagartixas são apenas pequenos cantos de mim.

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