https://www.amazon.com.br/Amores-desfocados-Marcelo- Frota
Em Amores desfocados (Editora Penalux, 2021), novo livro de Marcelo Frota, nos deparamos com uma narrativa utilizando-se da voz feminina, com uma escrita leve e ao mesmo tempo densa e concisa, sem delongas, onde o autor com maestria, traz o universo feminino a tona e transborda os amores e desamores e porque não, os dessabores desses amores e desamores ao longo da vida das mulheres.
Sim, falo de mulheres, todas elas, avós, mães, filhas, tias, primas, sobrinhas, irmãs, amigas, afilhadas, madrinhas. Independente se foram ou estão casadas, viúvas, namorando, solteiras ou em qualquer tipo de relacionamento. Mulheres que querem ser amadas, pois também amam. Mulheres que sabem amar, mulheres que esperam reciprocidade.
Marcelo Frota utiliza-se de referências do mundo da música e do cinema para compor alguns de seus poemas, como por exemplo, em Agora, poema de abertura que me fez lembrar a música de Caetano Veloso ‘Sozinho’ em sua primeira estrofe que diz “Às vezes no silêncio da noite / Eu fico imaginando nós dois / Eu fico ali sonhando acordado / Juntando o antes, o agora e o depois”.
Coincidência ou não, o poema Agora nos remete justamente a um amor que não vinga “Agora / No silêncio da noite / Sou vento/ tempestade que se avizinha no horizonte / Agora / entre paredes nuas / Sou verbo / Lampejo de ideias que o papel não comporta / Agora / Entre um gole e outro / Sou versos / Relatos de uma história de amor que não ornou”.
Cada poema dessa obra parece que conta a história de uma mulher por uma mulher, parece ser a narrativa de uma experiência vivida por cada uma delas, seja pelas Ana’s, pelas Joana’s, pelas Maria’s, pelas Julia’s, por todas elas e tantas outras que ficaria muito longa a lista se fosse citar o nome de todas. Mas todas elas ganharam voz pelas mãos do poeta.
Nos incríveis trinta (30) minutos que levei para “devorar” o livro consegui me ver, me projetar em cada parte das pequenas histórias refletidas em cada poema. Vi-me em cada uma das decepções, das felicidades, mesmo que momentânea, das desilusões, dos amores e desamores, dos dessabores, em cada amor compartilhado, em cada amor não correspondido, em cada paixão avassaladora ou perdida.
Vi minhas experiências felizes e as infelizes passarem diante de meus olhos. Na verdade, percebi toda a realidade de milhares de mulheres contadas nesses poemas. Quando li o poema A Noite, concordo com o poeta quando ele diz que a vida é contramão. Estamos na contramão de tudo, do que queremos, do que sonhamos, do que somos. Isso fica evidente ao ler “A noite fria e serena / É berço esplendido da devastação / Fumar um cigarro na janela / É distração para a solidão / Um carro passa na rua à contramão / a vida é contramão”, só faria um ajuste nesse cenário, em vez de um cigarro, estaria com uma taça de vinho na mão.
Esse poema me trouxe pensamentos sobre a vida e para a vida. Nós seres humanos temos a hábito de nos acomodarmos com o que não nos faz bem, pelo simples fato de carregar um medo gigantesco da mudança. O fato é que ninguém deve de acomodar, se acostumar com o que não lhe faz bem. Sei que falar é fácil, mas as vezes, encarar os medos é a saída para uma realidade que nos fere.
Não precisamos nos diminuir para caber um algum lugar, muito menos, nos diminuir para ‘caber’ na vida de quem seja que esteja em sua mente nesse momento. E tenho que você que lê essas palavras, pensou em alguém! Isso me remete ao poema Bauman, onde o poeta discorda com sociólogo e nos diz que “Bauman que me perdoe/ Mas o amor/ não é líquido / É sólido/ E corta/ Como navalha, perfeitamente amolada”.
O que cada poema deste livro me mostra é que devemos nos arriscar, ousar, nadar contra a maré e nunca desistir, ir à busca de nossa felicidade, e não projetá-la em algo ou alguém, muito menos receber o que sonhamos ou desejamos pela metade. Amores desfocados de Marcelo Frota nos deixa vários questionamentos ao final da leitura e uma só certeza: Vá atrás do que você quer, do que você sonha e seja sempre você.
Deixo um poema final para inspirar a leitura de você caro leitor, o poema Voltar:
Como o vento
Sopro para todos os lados
Sopro sem rumo
Sou indefinição
Entre lágrimas e sorrisos
Algum dia, serei
Serena e plena
Voltarei a amar
Voltarei a ser vida
Voltarei a ser eu.
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RESENHISTA: Francieli Meotti Oliveira é professora, escritora, crítica literária e digitadora. Natural de Ijuí, cidade do noroeste do estado do Rio Grande do Sul, tem paixão pelos livros, os quais adora colecionar, além de ler. Ama a literatura, e pelo amor que tem pelos livros e suas histórias, se tornou escritora. Amante do cinema e da boa música vai dos clássicos aos modernos. Em suas constantes leituras, não pode faltar livros de terror, suspense e uma pitada de sobrenatural. É autora de Verdades Subentendidas: Ponto de Ruptura (2020).
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