Fernando Andrade | escritor e jornalista
Qual relação pode ter um sujeito zaranza procurando sua ficção desbaratinada? Tocar a vida pode ser uma frase figurada ou até uma figura de linguagem para a autoficção. Tocá-la com os dedos da imaginação mais descabelada. Fingir até sua própria memória. Sonhos entram na biografia mais realista. Mas e o conto? Este ser que parece estar entrando no ringue da razão, para levar uns sopapos da poesia ou da estética onde a canção pulou corda e foi se coçar à prosa mais musical que um compositor já fechou.
Um conto que perca suas margens e vire um poema ou uma letra de um certo compositor. Estas desmedidas, achei não por acaso , na leitura do livro de uma autora chamada Rita de Podestá que falseou certa autenticidade autoral, buscando saídas e lacunas para perguntas sem respostas à problemática do gênero. Seu Zaranza, editora Reformatório, tem o gosto de um vinho embriagador que força o leitor a perder as estribeiras com o pudor dos rótulos.
Este seu Zaranza, parece o leitor, depois de alguns copos ou corpos da boa linguagem adversativa. Vou falar isso, enquanto tenciono aquilo. Veja meu caro, nas entrelinhas do discurso, tem filigranas de tons e semitons. É o que faz a Rita, com humor e sofisticação das palavras. Embrulha uma personagem que pode ser alter ego da autora, mas parece se desdobrar em milágrimas, em outras. Persona como uma boa dose de uma peça teatral, onde se encena o drama da vida banal.
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