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Marcelo Frota | escritor
A leitura da obra Dança do fogo dança da chuva de Andri Carvão (Editora Penalux, 2020) me fez pensar em dois poemas que se juntarmos podemos entender a escolha do título dessa obra, que por acaso, é dividida em três partes, sendo que a primeira leva o título da obra, a segunda é nomeada de Poética Pandêmica e a terceira, O lado B da poesia. Como disse, a poesia de Andri Carvão me fez lembrar as poesias “Chuva oblíqua” de Fernando Pessoa, assim como, “Amor é fogo que arde sem se ver” de Luís Vaz de Camões.
Mas porque será que fiz essa relação entre obras? Ah, sim! Isso é fácil explicar. Quem me conhece sabe que gosto de dias chuvosos, e como não podia deixar de ser, quando chove fico a observar a chuva, como se seu ruído fosse uma serenata. E tanto o poema de Pessoa, como a leitura da obra de Carvão me fazem pensar que sou um ser fragmentado, sem realmente saber quem sou.
Já com relação à obra de Camões, vejo que também ocorre uma aproximação e um distanciamento, tanto dos opostos, como dos iguais. Mas como assim? Simples! Pelo simples fato da realidade ser totalmente o verso do que idealizamos, sonhamos ou desejamos, e isso se reflete de forma direta da poesia de Carvão que em meio às adversidades que a vida nos impôs no ano de 2020, surge uma obra rica em significados e em dança.
O que me chama a atenção na escrita de Andri Carvão é o fato de que de forma direta, e por meio de palavras simples e claras, o poeta representa e apresenta temas que partem de uma compreensão interior para o mundo externo, ou seja, o mundo do meio comunitário e social. As palavras bem escolhidas pelo poeta fazem com que você dance conforme a leitura, a sensação que tive ao ler os poemas de Carvão foi a mesma que tive ao ler e ouvir “Garota de Ipanema” de autoria de Vinicius de Moraes e Tom Jobim.
As palavras rimam na folha, rimam nos olhos e rimam no pensamento. As variações poéticas usadas transmitem as diversas sensações, dilemas, ideias e ideais que atormentaram e confrontaram não só o autor, mas também, como assim o fará com você leitor. Como uma onda no mar, as palavras surgem com seus significados e as melodias, apesar de acalentar, ao mesmo tempo parecem ondas em fúria que te fazem estremecer a base.
Como todos podemos perceber, não é fácil encontrar poesia diante as adversidades da vida cotidiana, ainda mais no ano de 2020 quando essa obra foi produzida. Em meio a uma pandemia, o poeta consegue transpor em palavras as dificuldades encontradas, as dores, as ansiedades, as alegrias que advêm de um simples gesto de carinho, como por exemplo, um abraço. Situações como o isolamento social endurecem muitas vezes a alma humana, e reforçam ainda mais que um abraço, um beijo, um simples aperto de mão, possuem um significado inexplicável, um valor inestimável.
Isso pode ser observado nos versos do poema A Casa Abandonada quando o autor entoa que “A casa de fim de semana da família / ficava abandonada por dias e dias. / Muitas vezes a casa abandonada de fim de semana / só era frequentada a cada quinzena ou / uma vez ao mês. / Mas agora a casa abandonada / no meio do nada afastada de tudo e de todos / virou refúgio, a casa acolhedora.”. Ao contrário da primeira parte da obra em que sua estrutura varia um pouco, os poemas contidos na segunda parte da obra são demasiados longos e descritivos.
Na terceira e última parte da escrita de Andri Carvão, o poeta nos apresenta poemas aos quais procura fazer o leitor entender quem é o poeta e como é sua poesia, ou seja, Carvão faz uma reflexão poética e questiona o leitor sobre ‘onde está a poesia? E o poeta?’ ou quando questiona ‘O que é a poesia? E o poeta?’. Para responder tais questionamentos caro leitor, se prepare para ficar de frente a um abismo de definições, significados e sinais que Carvão vai lhe apresentar ao longo de suas poesias.
O poema SOS nos dá uma breve descrição desse abismo, como o qual vamos nos deparar “Poesia mensagem náufraga / numa garrafa em alto mar. /Quem encontra a garrafa / e bebe no gargalo / – salva o poeta.”. A meu ver, é por meio da poesia que encontramos as informações e significações do papel da poesia, do papel do poeta, e aqui reforço a ambiguidade usada com maestria por Carvão, assim como fez Camões.
Convido você, caro leitor, a desbravar essa obra e fazer, assim como eu o fiz, em descobrir os vários significados, as diversas mensagens contidas em cada verso, em cada poema contido em Dança do fogo dança da chuva de Andri Carvão.
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