A máquina-cabine de arrouba | conto de Fernando Andrade

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Fernando Andrade – escritor e jornalista

Acostumado a roubar arrouba de gado. Há botar chifre em sentidos estorvados, “fugiu” da fazenda, há muito havia desmantelado a moenda do farelo de rés. Tudo era moeda de gasto, tanto palavras fezes gastas por evacuação de plantios de amido-milho -coentro, dentro não havia mais pensamento. Pensou na máxima Penso… eu, resolveu trocar, peso mas exílio-me. Todos os coniventes da casa, mortos. Só sua lábia era cortante deveras como canivete, ainda mais de fumo. Não via mais telas na janela, haviam tetas empinadas em busca de sucção. O exercício da filhagem refletia sobre ele de forma dura, trôpega, lembrando os castigos do pai com vara de marmelo.

A mãe era o bico doce, quase de passarinho. Esta latência de leite à medida do tempo do pasto da fazenda foi mimetizando em dureza, em falta de notas não promissórias, e sim de dinheiro. Dava tiros pela culatra nos seus empregados, alijava-os do seguro social, não havia provenientes providendos tanto na fé quanto carestia. Foi arvorando de mortes, umas melissas vezes pois a quimérica ordem numérica havia escorrido por todo mel que as colmeias da fazenda produziam. Pois inventou uma máquina de peso enquanto peso, exílho-me, de Responsabilidades.

Uma máquina de cortar pedaços. Ele entrava numa parca cabine projétil e saia outro, o que vale dizer menor, menos arrouba. Até nisso roubava na máxima, vale quanto pesa. Por alguns dias esta frase foi perdendo arpejo quase como uma flauta doce. Assim quando saia era outro que estava à mandar nos enfermos empregados. A consciência parecia esquatejar dentro da tal cabine. Fazia de palavras que um dia foram cruzadas, até desfiguradas, de toda metáfora, cor, e matiz. Passou a rodar a fazenda em todo corte, para conseguir dinheiro. Gado de corte, lenha para corte, até o próprio farelo tinha esta nomenação de corte, como se ainda fosse possível.

Um dia uma lavadeira que ia dia sim dia não pegar roupa para quarar, reparou na barba sopesada. Monsenhor fica mais bonito, liso. Ele matutou, sopesou mais e menos. No dia seguinte não saiu do quarto. A cozinheira foi bater na sua porta. Assim que entrou, viu a cena. A garganta degolada com um riso tremendo escancarado de ponta à ponta. Dizem as más línguas que foi linha de cerol que pegou na garganta do sinhor.

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