Vai pra rua meu patrício. Vai pra rua meu conterrâneo. Você aí que acredita em Papai Noel verde-amarelo, Coelhinho da Pascoa Tupiniquim, Saci Pererê do Planalto, vai pra rua cidadão. Vai na fé, vai na paz.
Mostra pra gente que esse corona é fantasia, mostra pra gente que é só uma gripezinha.
Mostra pra gente que sua imunidade de extrema direita é invulnerável. Que você é patriota, tem medo de nada não. Quero ver, na verdade, todos queremos ver se a sua fé no Silas, no Soares, no Bispo Macedo cura um vírus que já matou mais de 15 mil.
Mostra pra gente que essa pandemia é uma trama comunista para a China ganhar bilhões. Mostra que tudo não passa de uma fantasia, histeria, paranoia, viagem da nossa cabeça. Uma alucinação, “minha alucinação é suportar o dia a dia”.
Vai lá meu querido, fazer um tour pela Itália, a Lombardia é linda. Vai lá madame, tomar sangria na Espanha, fazer comprinhas na Times Square. Se não existe COVID- 19, o trânsito na Califórnia, em Sampa e no Rio está ótimo, desobstruído, fluido. Vai nessa onda meu amigo, meu querido rapaz, minha garota de grife famosa, bora dar um role pelas ruas vazias. Tem nada não, tem vírus não. Tenha medo de assalto não, nem de facada não. Até disse um sujeito por ai que “depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar”.
Vai lá meu brasileiro de carro importado que mora na cobertura do Leblon, mostra sua humanidade. Deixa a empregada doméstica em casa, a babá dos seus filhos no barraco, dá uma passeada no parque, sem máscara, sem álcool em gel. Vai lá patriota, fã do Messias, prova pra gente, pra esse povo com medo, que é só uma resfriadinho. Vai lá meu brasileiro que acredita na Aliança pelo Brasil, que acredita que o 38 não é homenagem ao calibre da arma. Vai de braços abertos abraçar os seus.
Meu conterrâneo que bota fé no Ratinho do SBT, mais fé ainda no jornalismo imparcial da RECORD, na bondade do Véio (ele não gosta de ser chamado de SONEGADOR) da Havan, no português perfeito do Ministro da Educação, vai pra rua irmão. Vai na crença, aposta a vida na sabedoria do Mito, na arminha feita das mãos de padres e pastores e cantores sertanejos. Vai na fé com aqueles que dizem acreditar em Deus, que rezam nas igrejas e nos templos, sejam templos de Salomão ou não. Meu conterrâneo que bota fé na inocência do Flávio, na eloquência do Eduardo, na macheza do Carlos, na fidelidade da Michele. Vai na fé meu irmão, é tudo verdade. Pelo seu prisma rachado, é tudo verdade.
Vai pra rua meu patrício. Pobre de direita, defende aí os 4 meses sem salário, defende aí! Vai na fé de que o Mito sabe o que faz. Acredita mesmo, mas acredita em tudo! Vai para rua meu irmão, vai na fé, vai na paz. Mas depois não reclama não, não chora não!
E para fechar (de forma inesperada), o presidente, em rede nacional, fala de uma cura milagrosa por um remédio contra malária e artrite, que está recém sendo testado contra a COVID-19. Fala de seu histórico de atleta, lá longe quando era militar medíocre e terrorista. Explodir bombas pode? Pode, nesse Brasil de hoje (parece e deixa-se entender) que pode. Tudo pode. Ah, voltando ao histórico de atleta, ele disse, quem ouviu e viu sabe que ele disse, que se pegasse o vírus, teria só uma gripezinha. Bora lá Messias fazer um teste. Mostra pra gente sua super imunidade. Vai na fé, vai na insanidade, vai na paz. Se junta ao Heleno, a Damares, bora lá encontrar Jesus na goiabeira. Vai na fé. Vai na paz. Volta não.
Marcelo Frota é professor, escritor e poeta. Apaixonado por música, literatura e cinema. É coautor de Compilação Poética das Margens e autor de O Sul de Lugar Nenhum, lançado em 2019 pela Editora Penalux.
É isso aí… não é hora de nos omitirmos… convido a todos que comungam dos nossos ideais a compartilhar este texto… Um grande abraço virtual… de pertinho não pode…