“O que devemos parir é apenas o ato de ser”, por Fernando Andrade

67178097 2385575578152592 1910681918920196096 o 1024x566 - "O que devemos parir é apenas o ato de ser", por Fernando Andrade

 

fernando andrade

crítico literário e jornalista

 

Um papel que tenha marcações.  Engana-se quem seja um papel de carta. Entre entradas e despedidas, mesmo que o papel tenha um timbre, timbrado, vibrato. Um papel que seja claro, ou escuro, modulações de um personagem para seu teatro; ato a ato, ação a ação, o ato de falar e tanto de escutar, o ruído brisa que pede escuta atenta aos ouvintes que vem do mar.

 Mas diz o psicanalista, aqui uma rubrica. “Todos nós”, maria luiza Maia, editora penalux,  é difícil nos livrarmos dos papéis sociais impostos pelo mundo que são olhos dos outros nos olhando atentos ou acusando de algo que nos apresente ou acuse de uma marcação no chão, fazemos nosso papel de defesa, para isso escrevemos livros, peças, para não ser réu para não “sermos” diante do tribunal.

 A voz poética é uma arte camufladora. Empresto ou não minha coerência numa personagem, tão clarificante, tão Clara. Mas desço pelas escadas do inconsciente, ciente que guardo mais quando desloco a linguagem da comunicação para meus leitores.  Escrevo porque sou demasiadamente humana, a escrita me tira o sono é uma espécie de tombadilho de uma nau ofegante: em deriva.

 Todos nós e você que me lê. Chamam-me de maria luiza. Que espécie de crítico é você? Quero falar sozinha, não preciso de um interlocutor,  estou na peça da minha solidão. Por favor fale apenas na terceira pessoa.  Diga apenas  do que sei.  Da insônia,  dos remédios indutores de sono. Dos poeta divididos em otimistas e melancólicos.

Ontem  vi um poeta aqui na claraboia do teatro, ele lia Beckett, algo como god-espera. Todo crítico é metido à  sabichão. Então a porta; devo falar  pela boca do meu analista? Conto a ele todos os nós que me marcam a abertura dos talhos retalhos do meu corpo. Mas o crítico espera sair daqui falando da costura tanto da peça quanto das zonas que cirzem os espaços retintos do ser. Dois autores à procura de uma personagem. Clara ouviu isso. É para ela que dou meus melhores poemas, que digo que a bola 7 não terá seu buraco. 

Please follow and like us:
Be the first to comment

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial