A poesia Babelical, de Leonardo Almeida Filho, nas tessituras eras geológicas da criação-leitura
A poesia de Leonardo Almeida Filho se origina pelo cordão umbilical que liga o projetivo ser à mãe. Ligado pelo carinho da placenta que assenta casa e flama. Delicado silêncio entre as formas de expressão artística; entre relações de criação e obra, entre a ponte que vem se formando o imaginário coletivo-criativo de um artista, seus pares que lhe vieram antes e deixaram vestígios-pegadas na língua escritura do vosso contemporâneo.
Mas o que seria Babelical? se não o útero da criação, do ponto do crescimento corporal e biológico distinguido por relações de gêneros: meninos escrevem como meninas? Algo como um cordão até que físico que passe e perpasse a vida do artista quanto antena sensitiva de afetos de compatibilidades-filiações estéticas e admirativas.
Leonardo escreve em seu livro Babelical, editora Patuá, por laços muito sutis de irmandade autoral, mas não é apenas um ato de reverência, engana-se quem pensa desta posição de prestar simples homenagens. Sua escrita tanto na forma com seus motes e símbolos, criam a sua própria internalidade onde eu diria em usar um imagem um pouco terrosa, de um vulcão não em erupção, mas quente dentro de seu arcabouço de larva fervente.
Em seus poemas extremamente sofisticados do ponto de vista da forma e das variações de prosódia, Leonardo é quase um ferreiro vulcânico, dobrando lava em ferro, fundindo palavras em estética por inúmeras linhas literárias, tanto num simbolista, quanto um surrealista. É uma intensa capacidade de olhar o tempo que arte se desloca perante as linhas que as classificam como eras ou gerações de pensamento criativo e artístico.
Seus poemas obedecem à padrões muito mediados entre religião e paganismo. O poeta trabalha estas relações entre disparidades ideológicas no prenhe-útero da forma. Acho até que parece um trabalho de arqueologia, retirar a ancestralidade do poema, ir ao início dos tempos e ver o primeiro verbo-grito-lírico, parece rever o poeta, seguir costurando sua linha em relação aos pares no futuro, construindo novamente a sua corda o seu cordão de vozes, fantasmas do exílio da escrita? plurissignificantes sempre na alteridade como o próximo que lhe ouve e lê ou lhe dirige o cordame.
Cotação: Excelente
Fernando Andrade – escritor, poeta, parecerista, jornalista e crítico de literatura. Autor de 4 livros, o mais recente “Perpetuação da espécie” [Penalux, 2018].
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