PARQUE DAS RUÍNAS
ruínas é o estado de muitas coisas
posso dizer, em português, por exemplo
a casa está em ruínas
(me intriga que este substantivo seja muito mais efetivo com valor
adjetivo)
há, no Rio de Janeiro (em Santa Teresa, para ser mais específico)
um parque chamado Parque das Ruínas
em que nada é necessariamente ruínas (como no exemplo da casa)
só o nome mesmo
eu moro ao lado do parque das ruínas
que começou, na semana passada, uma grande obra
que não visa, de modo algum, reter ruínas
apenas construir uma nova via de acesso
ao parque, que é muito bonito, (diga-se
de passagem.)
é que a obra, diariamente, de segunda a sexta,
pontualmente, às 8h da manhã, (imagino toda a equipe de Jaeger-LeCoultre e com
britadeiras prateadas) começa.
e eu queria muito fazer aqui o elogio das britadeiras
é até um bom nome para um poema
mas odeio britadeiras.
e a obra, que começa pontualmente às 8h da manhã
interrompe, mas não só meu sono
interrompe meus sonhos
interrompe uma manhã toda
que nem é só minha
o tratratra da britadeira
interrompe até o meu poema
que não consegue nascer
ainda bem que poesia é menos importante que uma via de acesso
embora ela mesma via de acesso a algum parque das ruínas.
ES IST VOLLBRACHT
Cava um buraco
e guarda esse corpo
em simetria perfeita à mãe
que do fundo de si te expeliu.
Repousa este corpo de cinzas
num copo terroso
Pra dar de beber ao mundo.
Serás mastigados por pedras,
Serás lambido por lava,
Serás velado por um céu sombroso
E não hás de ressuscitar no terceiro dia.
RETORNO
A casa vazia
O grito da chave rodando na fechadura
A porta lançando alguma luz no corredor
O silêncio antigo
dos meus avós
dos meus tataravós
de uma estirpe inteira.
Um cheiro forte de fotos velhas
Um retorno à cidade natal
para um encontro com as mortes
e uma casa vazia de gente.
O óbvio é sempre um choque que dói.
Max Lima nasceu no Rio de Janeiro em 1992. É poeta, músico e mestrando em Literatura Brasileira.
Nas aparentes obviedades espremem-se os espantos
Na luz que cega,do dia,
Faz-se mais que as sombras
Lindos!