LIVRO: Sete Chaves e Outros Relatos
Autor: Alexandre Gazineo
Editora: Litteralux
Ano: 2025
Fernando Andrade. Brechas, lacunas, são aspectos do judiciário, mas também podemos pensá-los na ficção. Há muitos relatos sobre isso. Como você vê estas relações entre a literatura e o direito.
Alexandre Gazineo: De fato, o direito e os dramas humanos a este relacionados sempre estiveram presentes na literatura, a exemplo de Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski e Um Lugar ao Sol (To Kill a Mockingbird) de Harper Lee. Ter vivido tais dramas, por anos, levou-me a conceber o conto “O Juiz”, que cuida da linguagem labiríntica do Direito e das dificuldades em se alcançar a justiça no Brasil. Apesar da seriedade do tema, tratei-o com ironia e bom humor, sem perder o senso trágico.
Fernando Andrade: Sobriedade e reflexão podem ser primas-irmãs. No seu texto você atinge certo clímax de meditação sobre a solidão e o desamparo. Comente.
Alexandre Gazineo: Sempre senti que o grande problema do homem moderno é a incomunicabilidade, que, por sinal, a tecnologia não resolveu. Trocamos empatia e humanidade, por praticidade e velocidade. Estamos vivendo em bolhas e nos comunicando de maneira cada vez mais violenta. Os contos “Em Resistência” e “Criaturas” falam desta solidão moderna, trazendo uma narrativa na qual os personagens se perdem de si mesmos e dos outros que os cercam.
Fernando Andrade. Há no seu livro o subtítulo relatos, e eu lendo o livro vi certa verve cronística, mas cujo trabalho de depuração o torna mais existencialista, mais meditativo. Há este lado do relato, do dia a dia. Comente.
Alexandre Gazineo: O subtítulo “Outros Relatos” é um sinal da variedade de temas que os contos abordam. O livro trafega desde a ficção científica (Contagem Regressiva) ao relato policial (Desilusão), mas sempre fixando um liame entre ângulos tão distintos, qual seja, a discussão e reflexão sobre a condição humana.
Fernando Andrade: O primeiro conto, ele levemente toca o fantástico, embora seja um relato do cotidiano. Comente esta encostada no estilo em questão.
Alexandre Gazineo: O conto “A Companhia” tem um tom fantástico, mas sem trazer elementos exteriores ao narrador. O que parece realismo mágico, na verdade, nada mais é do que a própria percepção do personagem sobre sua existência. Muitas vezes nos espantamos com sensações personalíssimas ao longo da vida, aponto de ser difícil transmiti-las aos outros. Mas nem por isso deixam elas de ser reais.
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