Livro de contos “O que devíamos ter feito” estuda as possibilidades do narrador em jogos de devires | por Fernando Andrade

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por Fernando Andrade | jornalista e crítico de literatura

A cada pessoa-personagem que empenhamos, nossa voz é um possível jogo narrativo que apostamos como vida, modo de usar. A palavra Play serve como jogo onde se apostam certas regras para um espaço narrativo onde a ação e os personagens se jogam no dramatúrgico, mas também, como cena, parte deste jogo onde temos a prática textual da encenação de uma ação trans cursiva. É um jogo combinatório, pois para o escritor em ação, há muitas possibilidades de combinar percursos narrativos, onde certa intenção de Pedro vai dar? se não tivesse tomado este caminho.
 É muito interessante notar que o novo livro de contos do escritor e crítico literário, Whisner Fraga, O que devíamos ter feito, editora Patuá, inicie sua coletânea, exatamente, com um conto potencial de devires narrativos. Pois a partir dele, vamos ter uma espécie de interlocutor ouvinte, uma atenta analista que não sabemos se é uma personagem que interfere no enredo, ou uma atenta escuta do narrador. Este conto será uma espécie de coro grego que fará eco em outras histórias do livro. Por quê? Se no conto em que se abre o livro temos um momento pandêmico? onde uma família se questiona se deve levar a filha à uma exposição cheia de gente. Um vírus circula. Aqui a cena agrega a relação entre arte e escuta\ espectador. Mas se temos um contágio , também, há um mote desestabilizador.
É interessante como o autor já encena no conto inúmeras possibilidades narrativas de operar este narrador,  em outras narrativas onde a ausência\presença do que é interdito se faz mote de porvires. O que devíamos ter feito na probabilidade de algo ruim? E caso ela tombasse doente, quais as séries de negações, que se pode suportar ou alterar sob o ponto de um contágio?
  Como no conto do acidente de Kombi, relação causal, não há, mas há um estudo sobre a voz na sua potencialidade evolutiva sobre o que não foi, algo como estudar o destino dramático ou trágico, em eventualidades dramáticas. É como se a voz que fala, e constroem tessituras – fios narrativos, funcionasse com um arquétipo quase religioso e ligado a certo cântico oral sobre o universo, este mesmo onde recai, a fatalidade, o acaso, destino, futuro. É engraçado perscrutar que quando vamos ao analista nossa voz para ele, retumbe, logo mais adiante, em outras paragens, estações, aquilo que falamos para nosso coração, pode surgir e acionar, máquinas narrativas para engendrar o futuro.       

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