Romance Nhe’enga a more quixotesco carnavaliza e metaboliza a leitura como uma primeira narração interior sobre a segunda, agora, na escrita | por Fernando Andrade

Nheenga Literatura e Fechadura - Romance Nhe'enga a more quixotesco carnavaliza e metaboliza a leitura como uma primeira narração interior sobre a segunda, agora, na escrita | por Fernando Andrade

 


Fernando Andrade –  jornalista e crítico de literatura

O leitor é uma escuta narração onde os caminhos e fronteiras da ficção se bifurcam? Se ele não apenas move a leitura através dos sentidos do texto, na sua mente existe um noção de narração que por imagens produz pensamento sobre o narrar. O leitor, então, através da linguagem visual também opera ou move no sentido do hiper-texto, pois mover seria praticar a leitura anterior na atual, mexer com pergaminhos do que já capturou de espaço de síntese ficcional.

Quando escrevemos pomos a leitura como projeção de elementos semióticos da narrativas, arquétipos, símbolos, mitos. Estou à pensar nesta usina sonora de ritmos, prosódias, que o elemento carnavalizador de um certo traço cultural do folclore, entranha numa história, numa cidade, criando uma relação entre arcaico e moderno, entre civilizante e mitos que percorrem uma cultura que nunca é uniforme em sua matiz. Nesta veia entre leitor que metaboliza os arquétipos entre cultura popular e erudita que traça com uma traça toda um metabolismo sobre história da literatura, suas funções e pulsões quando temos a não divisão normativa dos gêneros.

Danilo Costa Leite em seu novo livro Nhe’enga a more quixotesco, editora Kotter, faz um interessante trabalho sobre o discurso literário quando produto não racionalizante de um veia puramente estudiosa. Se a literatura atual trabalha na base de referências, o autor é muito imaginoso, em não teorizar aspectos formais sobre a ficção, e sim, deixar a trama e o processo meta-literário fluir por si só, numa rede textual sobre como a antena de Danilo opera segundo suas próprias cognições.

Começando com poemas quase paródicos e referenciais, situando textos e contextos, lugares e espaços. A teia se alastra com uma ficção sobre uma cidade do interior deste brasil, multicultural. Personagens com Rodolfo e Laura se desconectam e conectam sobre os fatos do gostar, tramados nas entrelinhas do texto, de poemas memoráveis. Danilo monta a ficção com fontes de um pergaminho histórico e mitológico. Costura tão bem as relações entre baixa cultura e alta cultura imbricando a indústria cultural em sua manifestação sobre valores tanto advindos da televisão como de um teatro de rua.

Rodolfo quer retornar a posse-relação com sua lacunar Laura. Laura também quer. São processos que os dois se verão envolvidos por uma cidade caipira que vê a canção, um modelo de massificação? da trova-verso sobre o amor, o enamoramento. Encontros com narradores que parecem sair do livro para serem captadores de sinais auditivos globalizantes.
Narradores que ouvem não apenas caracteres e signos, mas também poluição sonora, apitos de trânsito, ruídos, afonias. A família com modelo funcional ou disfuncional, com se passa neste imbróglio semiótico sobre a solidão da leitura personificada num ser ruivo que transmite e transita feito um fantasma toda a loucura do grifo da ficção.

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