A RESSONÂNCIA DA POESIA HUMANA DE CARINA CASTRO – por Marcelo Frota

DELICADEZA BRUTA - A RESSONÂNCIA DA POESIA HUMANA DE CARINA CASTRO - por Marcelo Frota

As palavras são tempo e revolução. Dar-se o tempo para refletir e ter o ímpeto de revolucionar, características estas primordiais de grandes autores. São palavras que separadas têm significados distintos, mas que juntas, tempo (de) revolução tornam-se sinônimo de mudança, de começo, de avanço.

Carina Castro une tempo e revolução em seu segundo livro, Delicadeza Bruta (Editora Penalux, 2020) para significar e ampliar temas de ressonância no nosso agora, e, através de versos lapidados, com o esmero de uma artesã, cujo material são verbos, substantivos e adjetivos, arquiteta versos que enaltecem a força feminina, a espiritualidade e a condição humana.

O poema que abre o livro dá o tom do que está por vir em toda obra, uma ode aos começos, as reconstruções: “retomo nas mãos os passos/que deixei pela noite/as palavras que deixei/pelo caminho//encruzilhadas/cruzam/meu corpo”. A poetisa fala de si, e dá voz a homens e mulheres que buscam ressignificar sua condição, traçar novos rumos, navegar pelo desconhecido. Ela sabe e nós também sabemos que, buscar o novo assusta, mas que o resultado dessa busca é a libertação do espirito, força que nos impulsiona e nos faz humanos.

Em Recompondo, percebemos a necessidade do isolamento para a recomposição do ser: “me recolho/pedaço por pedaço/costuro/me abrigo/sob minha pele/durmo pesado sonos ancestrais/até que a fome desperte/com as garras já crescidas”. O tempo necessário para reconstruir-se, e então revolucionar é a força motriz do poema, que em poucos versos traz respostas para angústias cotidianas. Reservar-se, preservar-se, recompor-se e então ressurgir com força, é algo almejado por muitos, mas poucos têm a coragem desse “olhar para dentro de si mesmo” e então se reinventar como pessoa.

O poder do inconformismo com o que está ante de nós, ou o que é nossa condição está em Guia, e ressoa tão atual, assim como brutalmente forte nesse pequeno verso: “chamo dandara dos palmares/chamo carolina maria de jesus/chamo marielle franco”.
São quantas as Dandaras que morrem a cada dia para escapar de sua condição? Quantas são as Carolinas Maria de Jesus que conseguem espaço em um mundo de homens, em uma sociedade de brancos? Quantas Marielles terão que ser assassinadas para que a homofobia e a repudia por uma sociedade igualitária sejam alcançadas?

Responder a tais perguntas não posso, se pudesse seria hoje. Hoje, gritaria BASTA. É tempo de revolução? Sim, é tempo. Tempo de uma revolução interna para alcançar a iluminação. Tempo de uma revolução social, política, humana. É tempo de ler Carina Castro e refletir sobre quem somos, e, para onde vamos.

 

 

 

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