Livro de poemas Onilírica por argúcia e delicadeza “camufla” a forma de cinzelar o poema na própria tessitura poética do devaneio

 

por Fernando Andrade

(Escritor e crítico de literatura)

 

Caro leitor, se todo cineasta que se preze capturasse uma imagem-gato. Que pula pela janela levando consigo o sentido pelo rabo. A imagem tem massa? cabe dentro de uma gaiola cujo espaço são as grades de sua instantaneidade. Imagens escapulem pelos dedos, não são dadas à poleiros onde pés (en)tornam a tessitura da madeira. Ouvi dizer que um personagem fugiu de sua imagem por que era dado ao devaneio. Ouvi dizer também que um diretor de TV queria engaiolar esta imagem num frame de emissão – transmissão por cabo em todas as casas onde não há à princípio um livro de poesia aberto.

A poesia vive em casas onde a liberdade é sintonia do devanear o espaço onde o poeta é autor(a) e lira de sua própria ação em transcurso. Como se duas palavras pudessem libidinar a criação do sensorial na arte, fazer do pulo do gato o gatilho para colorir o cotidiano de uma casa de uma vida colorida de tornozelos enovelados.

Por isso o devaneio é tão importante no cortante às frases, na faca da mão fatiando e cortando senso de realidade, tabletes não de chocolate,mas de sua adocicada afetividade. A poeta Ariane Mieco desfia estes fios suspensos qual uma Ariadne em busca do sentido-tecido?no seu novo livro de poemas, Onilírica, (Editora Patuá). Torção bela de duas palavras muito gostosas de sugestionar de beleza quanto do fio à pavio, colocamos palavrinhas juntas sem clarão aparente.

Seu tecido ou tessitura é do vão que não se preenche entre espaços. Embora seus poemas resvalem para uma doce cotidianidade. A forma de contá-los é lacunar como uma escada para Lua.  Por isso, Calvino, em Cosmicômicas, outra aglutinação de contrários?  usava de uma potente imaginação para falar de enunciados científicos, onde as leis físicas eram trocadas pela forma pura de devaneio, em colocar, por exemplo, uma escada em baixo da lua.  A poeta na verdade imanta seus espaços lacunares de uma certa morfologia molecular do abandono lírico. Aqueles minúsculos germes que chamamos de ausências. 

 

COTAÇÃO: EXCELENTE

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