“Um ruído despe a fresta da janela” – Três poemas de Maria Alice Bragança

 
ADÁGIO MONÓTONO

O silêncio das horas
roubou o tempo.
Um ruído despe a fresta da janela,
invade o quarto, revela o sonho,
o horário,
o cansaço,
a vida linear.

 

 

MINGUANTE

Algumas noites acontece assim,
as sombras saem às ruas
a procurar uma metade qualquer.
Algumas noites acontece assim,
surgem esses mistérios.
Não reflete o espelho
parte do rosto.

 

 

A MAGA

Todo dia se entregava
a rituais de negra magia.
Transformava-se em meias,
cuecas, camisas lavadas.
Mutava-se em objetos mudos,
escusos, como uma xícara de chá.
Seu nome, o que fora um dia,
dissolvia-se, desaparecia,
ao ligar o aspirador de pó.

 

 

Maria Alice Bragança. Nasci em Porto Alegre em 9 de janeiro de 1958, talvez um dia de temporal, como ocorreu em vários aniversários dos quais me lembro nesses tantos anos. Jornalista, mestre em Comunicação Social pela PUCRS, redatora e editora de emissoras de rádio de jornal, fui também professora de jornalismo e artes visuais. Os primeiros poemas, escrevi por volta dos 14 anos, impactada com a leitura de Drummond. A poesia tornou-se, então, parte imprescindível da minha vida. Publiquei poemas em jornais, antologias e um livro individual, “Quarto em quadro”, em 1986.
Mantenho, sem periodicidade, o blog “Alice & Labirintos” (alicelabirintos.blogspot.com) e participo do coletivo Mulherio das Letras (RS, Portugal e Europa).

 

 

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This Article Has 6 Comments
  1. Ricardo Mainieri Reply

    Ótimos poemas, Maria Alice. Uma certa atmosfera fantástica permeia teus versos. Um lirismo discreto. Sonhos, sortilégios e a sombra da solidão.

  2. Denise Martins Freitas Reply

    Bons poemas para se ler.

    • Maria Alice Bragança Reply

      Gratíssima, Denise.
      Encontrei o comentário teu somente agora, psssado mais de ano, mas fiquei muiito contente por mais 12 meses.
      Beijos

  3. Vera Ione Molina Reply

    Gostei muito dos poemas, Maria Alice, aliás sempre gosto dos teus poemas.

    • Maria Alice Bragança Reply

      Obrigada, querida Vera!
      Encontrei o comentário teu somente agora, passado um ano já, mas o contentamento está atualizado
      Beijos

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