Livro de poemas Para todos os corações Selvagens bebe de uma linhagem dos grandes artistas que vasculharam a alma humana e dela fizeram arte.

 

 

Tom Waits, o grande burlador, do sonho americano vestiu a alma de pessoas ou personagens à margem do sistema, com uma garrafa de Bourbon ou apostando em cartas ou dados, ele personificou uma América que sempre viu o lado bom do sonho americano com dinheiro, carros, e claro o vazio yuppie dos anos 80. Seu terno alinhado ao seu perfil ou ao seu biotipo era do perdedor mas que teria um prumo literário ou musical, que acreditava na arte sublimando as tempestades da alma humana, que acima de tudo tinha poesia nas veias, pois sabia que era apesar de cabeça dura, era doce.

O artista João faz parte de uma vasta trajetória de escritores, músicos, que narrativaram não uma forma de fracasso, pois este artistas tinham uma grandeza pouco vista, entre outros pares.
Mas sim, uma forma de altivez em sondar a alma perturbada. Robert Walser foi o grande poeta da depressão, aqui não no sentido completamente clínico, mas tangenciando os aspectos imagéticos, sonoros, metafóricos, do corpo andarilho, que não se sente bem adaptado ao mundo. Walser esquadrinhou a infância, com todas sua normas de obediência, estudou as posturas sociais hipócritas, e elevou um humor estradeiro; um comportamento errante do homem perante seu self.

Ao ler o poeta, João Pires da Gama, no seu novo livro chamado Para todos os corações Selvagens, (Editora Multifoco) vemos antes do poeta, um narrador, ou um clown andarilho percorrendo ilimitados bosques da ficção, para citar Umberto Eco, em seu livro sobre teoria literária. Embora a maioria dos poemas se passem em zona escura do poeta, o seu eu interno. 

Há uma narrativa camuflada de viagem, algo muito perto e bonito feito pelo mestre italiano Ettore Scola em “A viagem do capitão Tornado”, onde uma companhia teatral viaja pela  França com sua peça teatral itinerante. A Alma de cada ator e poeta no caso de João é o próprio caminho não só de realização, mas também de alteridade com que a arte lhe dá pertencimento.

João não fala para si mesmo, não é um auto-diálogo consigo que realiza no seu livro. Ele tem um interlocutor que no decorrer do poema não aparece, mas está de certa forma visível, pela liberdade poética da linguagem do poeta de se expressar como um ouvinte estando ali, camuflado de neve, da brancura da página.

São ações que poeta carrega em seu bojo, em seu corpo, criando intimidades com seres que passam ou cruzam seu caminho. É interessante notar um certo pendor à canção como mote ou artífice para o desenho da ação em curso, onde poeta fala de si mesmo com a musicalidade de suas frases cortantes e sarcásticas, com certa penúria, como se ele tivesse no bolso poucos vinténs, aqui o social é um meio do poeta, se indignar com com certo isolamento, com a empatia dos homens que levam apenas sorrisos bobos no rosto

cotação: ótimo

 

 

 

afernandoab 1 300x300 - Livro de poemas Para todos os corações Selvagens bebe de uma linhagem dos grandes artistas que vasculharam a alma humana e dela fizeram arte.FERNANDO ANDRADE, jornalista, poeta e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemometria, e Enclave (poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Lançou em 2018 o seu quarto livro de poemas A perpetuação da espécie,  Editora Penalux.

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