REALCE
o chão reflete no fundo
do peito:
o sol
um xote
a contradança entre ondas
mecânicas e
eletromagnéticas
num doce
contraste
com este meu
país
NOTURNO
Outra vez alguém dançou.
Os bares transformistas
despertam de sua roupagem
ao som de eletrobregas
Bolivianos abatidos se arrastam
nas ruelas esquecidas
sob o voo triunfante
do homem-urubu.
VERMELHO
a alegria profunda de sangue quente
e o flerte com a morte – luz de hotel
a consciência da carne perecível
a possibilidade de sair voando janela afora
a distância mental entre o braço
e a agulha na seringa
a distância entre a espada e a bainha –
a picada que recorda a face do vazio
a necessidade de um grito histérico
ou de um uivo no corredor sujo e fétido
mosquito transmissor da fatalidade –
espeta com a lança feroz
música instrumental que desfaz qualquer diferença
entre matéria e energia
a carne que esvai com o fluxo de pensamento
a alma que vaga pelos corpos da natureza eterna
*</span
MINIBIO: Vitor Soares é poeta e autor do livro Vultos, ventos (no prelo)
Be the first to comment